Um passarinho todo ofegante pousou em minha janela e me cantou: “Miiilton!!!,Miiilton!!! Setembro chegou!!!” Fiz cara de surpresa como quem recebe de prima uma boa nova. Sendo leitor assíduo do “Informativo das miudezas”, ando bem informado. Mas não ia deixar meu amiguinho sem graça.”Setembro...Ah! Setembro chegou!!!” Até ensaiei alguns pulinhos, para que visse que fiz conta do que ele me cantou. Aprendi isto com o pessoal do teatro, ou em alguma novela da Globo, sei lá.Voce dissimula (sim, disse, mula).Repete a fala do interlocutor. Repete a primeira parte do que acabou de ouvir:”Setembro...” Num átimo de segundo, dá uma de migué, João sem braço, franze a testa, aperta os olhos. Depois solta, solta a velha “heúreka” de Arquimedes: ...Ah! Setembro chegou!!!” Até eu que sou mais bobo do que os outros, já sabia.Importa é que o mensageiro,deixou o seu recado e se foi todo, todo. Tinha que apregoar por aí por janelas e telhados a buona notizia.
(Agora que ele saiu adejando por aí, posso falar) Na verdade meu informante alado era um... pardal. Ninguém conhece, né? É um passarídio da família passeridae, originário da Europa. Acredita-se que chegou ao Brasil em 1908. Ele foi trazido de Portugal na época da epidemia de febre amarela porque achava-se que o pássaro comeria os mosquitos transmissores da doença, acabando com eles. Mas enganaram feio. Pardal só come grãos e sementes.
É um pássaro que muitos chamam de ordinário, cosmopolita e vira - lata dos passarinhos. Dizem até que ele canta mal pra caralho somente para não ficar preso em gaiola. É motivo de pilherinhas. Dizem que a coisa anda tão brava na cidade que ele tem ido trabalhar de servente de pedreiro para João de barro.Pardal, pra cá, pardal pra lá.
Até os equipamentos instalados em postes que fotografam e registram os excessos de velocidade dos veículos, tem o nome desta avezinha. Definitivamente, não pode ser uma homenagem.
Tem um adágio popular que diz:“Todos os pássaros comem trigo e quem paga é o pardal”
Por tantas ofensas, injurias e execrações ao pobre bichinho, vamos propugnar aqui uma nota de desagravo.
Rita Lee tem até uma prece que tomei posse:
“Se Deus quiser um dia acabo voando
Tão banal assim como um pardal
Meio de contrabando
Desviar do estilingue
Deixar que me xingue
E tomar banho de sol..”
È bichinho laborioso e fiel. Um certo Gustavo Pacheco, membro do OAP - Observadores de Aves de Pernambuco, comentou:“Certamente, se um dia acontecer de todas as espécies nativas abandonarem os centros urbanos, ficará o fiel pardal para nos consolar”.
Perrrgunta. Se um pardal deste se candidatasse se votaria nele? Sim. Sem titubeio. Um bom político não precisa trazer graaandes novidades. Posar de salvador da Pátria, nem pensar. Só precisa chamar seu eleitor pelo nome: “Miiilton!!!”. ...Bom Setembro!