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Obesidade é uma doença crônica não transmissível caracterizada pelo acúmulo de energia através do tecido adiposo. Atualmente essa doença é considerada problema grave de saúde pública atingindo níveis de epidemia em algumas localidades.
Os mecanismos exatos pelos quais se desenvolve sobrepeso e obesidade ainda não estão totalmente esclarecidos. A obesidade, segundo a literatura, resulta na interação de múltiplos fatores biológicos, sociodemográficos e comportamentais. Sendo difícil mensurar a importância de cada um deles como responsável direto no processo de adoecimento. Há evidências de que o meio ambiente colabora com aproximadamente 60% da obesidade e sobrepeso relatados no mundo.
Dentre os fatores biológicos são descritos como baixo peso ou excesso de peso ao nascer, desmame precoce, menarca antes dos 12 anos, alta paridade e menopausa. Além disso, a literatura indica risco de excesso de peso duplicado quando os genitores são obesos, supões-se que fatores genéticos e ambientais estejam envolvidos.
O baixo e médio nível socioeconômico e cultural interfere negativamente na disponibilidade de alimentos, no acesso a informações e serviços de saúde assim como no estilo de vida e em determinados padrões de atividade física. As pesquisas indicam que a educação determina possibilidade de maior conhecimento e acesso a um estilo de vida saudável.
Além disso, o estilo de vida ocidental contemporâneo tem sido relatado como fator comportamental determinante na instalação e desenvolvimento dessa doença. Isso envolve uma vida mais sedentária pelas facilidades tecnológicas e uma piora na qualidade alimentar gerado pelo ritmo acelerado dessa modernidade. As pessoas ingerem mais alimentos gordurosos, de baixo custo e fáceis de serem preparados além de gastarem menos energia nas atividades diárias regadas a controle remoto e teclados virtuais. Além desses hábitos alimentares deturpados e do sedentarismo o consumo de álcool tem sido associado à obesidade.
Com o crescimento frenético do número de obesos necessitou-se de medidas mais agressivas para combater essa patologia e todas as suas conseqüências desastrosas.
Foi então que se idealizaram cirurgias capazes de reduzir a absorção de nutrientes ingeridos na dieta. As primeiras cirurgias causaram uma série de anormalidades como desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos, cálculos renais, hipercrescimento bacteriano, acidose e falência hepática. Dessa forma, foram abandonadas na década de 1970.
Entretanto outros autores aprimoraram a técnica inicial obtendo resultados surpreendentes com baixos índices de complicações e mortalidade. Na atualidade contamos com várias técnicas cirúrgicas a serem indicadas conforme o perfil do paciente. Essas técnicas devem ser indicadas e orientadas pelo cirurgião do aparelho digestivo que realizará o procedimento.
E quem pode ou deve fazer a cirurgia bariátrica?
Os critérios aceitos pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e referendados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) baseiam-se nos valores de IMC (índice de massa corporal) e na existência de doenças associadas à obesidade. Pacientes com IMC acima de 40kg/m2 e pacientes com IMC entre 35 a 40kg/m2 com alguma doença associada como diabetes melitus tipo 2, hipertensão arterial, doença articular, dislipidemia, coronariopatias, apneia do sono e outras são candidatos a cirurgia.
Entretanto, mediante a tão promissor resultado cirúrgico surgiram os percalços do caminho. Pacientes que após longo período de perda de peso iniciaram processo de reganho. E os questionamentos se fizeram: será mesmo que a cirurgia bariátrica é a medida definitiva no combate a obesidade?
Nessa encruzilhada percebe-se que não basta mutilar o aparelho digestivo, mas sim desenvolver esquema multidisciplinar atuante se não para o resto da vida, pelo menos em muito longo prazo.
Naqueles pacientes com fatores limitantes como dificuldades de praticar atividade física, doenças associadas que aumentam a mortalidade e que já tiveram tentativas anteriores de perda de peso falidas, a cirurgia bariátrica tem papel definitivamente prioritário e valoroso no custo benefício em busca da saúde física e mental.
O que assusta é a indicação desenfreada desse tipo de procedimento e a promessa de contos de fadas onde o sapo vira príncipe com o soar do bisturi no centro cirúrgico.
A realidade escancarada pelos trabalhos de pesquisa mostra alta incidência de reganho de peso, aparecimento de transtornos alimentares como compulsão alimentar, compulsão por álcool, por drogas ilícitas, por compras, pro exercícios, anorexia, bulemia, depressão além de aparecimento de comorbidades silenciosas como anemia ferropriva, anemia megaloblastica, osteopenia, desidratação e outras deficiências nutricionais.
Isso ocorre porque há uma necessidade de acompanhamento médico, nutricional e psicológico em muito longo prazo (senão para o resto da vida) por esses pacientes submetidos a esse procedimento.
E o que se vê na prática é a evasão dos consultórios a partir de dois anos de cirurgia. Os pacientes se vêem independentes do psicólogo e da nutricionista e deixam de ir aos retornos periódicos colocando sua saúde e vida em risco.
Dessa forma, é necessária uma equipe multidisciplinar coesa e compromissada com a missão de conscientizar o paciente de que obesidade é doença crônica multifatorial e que é necessário tratar para o resto da vida. Que não há milagres na busca pelo peso ideal, mas sim um caminho árduo a ser percorrido em direção a saúde e qualidade de vida.
Nesse contexto o papel do psicólogo tem ganhado ênfase e sendo discutido como fator determinante de sucesso.
Cabe ao psicólogo abordar o sofrimento psíquico como mais um agravante da obesidade e que é acentuado pela exigência cultural de um corpo perfeito.
Segundo Dr João Batista Marchesini, cirurgião bariátrico do Paraná, a participação do psicólogo só foi enfatizada bem depois das primeiras cirurgias e isso prejudicou os resultados iniciais. Segundo Ele: “A cirurgia bariátrica não pode transformar um gordo infeliz em um magro infeliz, sob pena de perder sua finalidade”.
http://claudiapajaro.blogspot.com.br/2010/05/tecnica-da-cirurgia-bariatrica-feita.html
A atuação do psicólogo compete em uma avaliação inicial. Nesta observa-se a motivação específica. Explica a diferença entre tratamento psicológico e avaliação pré operatória. Questiona-se sobre doenças associadas, genética, início da obesidade, tratamentos anteriores, álcool e drogas ilícitas e dificuldades sociais. Utiliza-se de testes gráficos projetivos que tem por objetivo confirmar dados sobre características de personalidade do paciente além de servir de respaldo jurídico no caso de questionamento do laudo pela família e ou equipe.
Também é realizada entrevista semidirigida que abordam o relacionamento com figuras parentais, relação com corpo, aceitação ou rejeição, identificação do padrão alimentar, forma usual de resolver os problemas rotineiros e reação a perdas.
E por fim a entrevista devolutiva como último encontro antes do procedimento cirúrgico quando é entregue um parecer à equipe sobre as condições psicológicas do paciente.
O mais importante frente a esse tornado de emoções e mudanças é orientar o paciente a retornar ao consultório de psicologia. É conscientizar o cliente da possível demanda psicológica quando novos arranjos emocionais surgirem. E da conseqüência desastrosa diante da negligência dessa abordagem.
Maria Salete Arenales-Loli respondeu ao questionamento de um cirurgião a respeito dos recursos que o paciente poderá recorrer quando impedido de comer em excesso como via de resolução dos problemas: “assim como uma corda ou um cristal que, quando submetido a uma pressão específica, romper-se-ão em seus pontos de maior fragilidade, funcionam assim nossos arranjos emocionais.”
Outras formas de reagir a angústias serão criadas já que a comida perderá aquela função defensiva.
É função do psicólogo frente a esse perfil de paciente mostrar as necessidades específicas de cada um com detalhes e realizar uma espécie de prognóstico psicológico.
Enfim, toda literatura médica ressalta a importância do trabalho conjunto multidisciplinar no tratamento do paciente obeso principalmente naquele com indicação de cirurgia bariátrica.
Mostra também que pacientes mal orientados no pré operatório e não conscientizados das dificuldades e mudanças necessárias estão fadados a falência terapêutica com reganho de peso em poucos anos.
Dessa forma, além de conscientizar o paciente que obesidade é doença crônica e deve ser tratada com mudança de estilo de vida para o resto da vida, é importante conscientizar os profissionais que coorporam a equipe multidisciplinar que acolherá esse paciente.
http://www.magraemergente.com/cirurgia-bariatrica/como-o-tratamento-psicologico-pode-ajudar-na-cirurgia-bariatrica/
Necessita-se de profissionais dedicados a essa causa com compromisso e competência.
Profissionais que deixam claro ao paciente que a “era” dos contos de fadas já não se faz presente.
Que são necessárias dedicação e mudanças reais.
Profissionais que se mostram aptos a acolher o paciente em qualquer fase vivenciada e experimentada independente das dificuldades surgidas.