Também sofro com os solavancos do cotidiano para sobreviver, tal qualzinho a todo terráquio, mas do meu lado, luto para conservar a mente simples e um coração afetuoso, quase ingênuo. Não é tipo, não. É jeitão original. Em meu trabalho na mídia, trago um diapasão para afinar, com a máxima harmonia o que sinto, com o que escrevo e que sou, para que ninguém subestime o meu valor e nem supervalorize a minha imagem...Imagino que a atriz e escritora Maitê Proença, tenha superado algo semelhante, quando afirmou:”Escrever chorando não presta. A mim só interessa a arte como expressão. Gosto do conforto de não ter que agradar a ninguém”... Cheguei lá.
Hoje, não sou nada mais do que um pai numa titânica luta para educar os filhos e postá-los bem na vida. E alguém só precisa me avisar, constantemente que eles cresceram. Isto porque congelei-os na imagem de menininhos, que não mais são. Criaram asas. Voaram. Quando dei por mim, vi o coração cigano de meu saudoso pai, pulsar forte no peito dos meus dois rebentos. Agora se instalarem, precocemente, distantes do meu abraço...Eu? Eu, escrevia....
E escrevendo me realizei, só de amar a literatura, que muitos dizem “não dar camisa a ninguém” foi promovido como cidadão deste mundo. Sai a campo desarmado e conheci, literalmente, o céu e o inferno deste ofício . Hoje é passado, mas confesso que durante um bom tempo, preocupei-me com as rotulações e etiquetas que lançavam por ai sobre o meu nome. Afagos no ego e pancadas no fígado se intercalavam. Imagine, receber gratuitamente a pecha de polêmico. Ser até hoje o único colunista da cidade a receber uma asquerosa Moção de Repúdio da Câmara Municipal. (Hoje no lucro, já recebi depois disto, quatro Moções de Aplausos desta mesma Câmara.) Ser chamado de erudito, ou simplista; piegas ou religioso; idealista ou sonhador, sensível ou idiota, cult ou cool, romântico ou vaidoso, de anjo de candura ou “a mosca que pousa no estrume do cavalo do bandido”... E por aí vai...E por ai foi...Escrevia.
Tive conversa duríssima com o meu coração para que não acreditasse em nada do que terceiros me decretavam. Não tomaria nada disto como sentença real. Afinal, eram veredictos de pessoas que não ‘comiam pane’ comigo. E não sendo companheiros , jamais souberam de minha faina diária. E não tinham o direito de violentar a minha personalidade. Afirmar que eu era o que jamais neste mundo serei. Nem sei por que estou aqui a repassar isto, se, hoje não há em meu íntimo, sequer vestígios desse passado, que jaz nas profundezas, mais profundas do esquecimento.E meu magno desejo hoje é de dar um abraço mutuamente perdoador em quem me consignou a tal “Moção de Repúdio”.
O tempo, nunca falhará como remédio. Olhe bem pra mim se não sou um sazonado fruto da boa conduta. "Navigare necesse; vivere non est necesse". Toquei meu barco, usei a força do meu braço ferido e fui. Naveguei – e ainda navego - neste impreciso e encapelado mar da vida. Só que, hoje em nível de consciência superior.Como diz lá o provérbio inglês: “Mar calmo nunca fez marinheiro habilidoso” Modéstia a parte...
De coração arejado, encontro-me naquele estágio de não ter de agradar a ninguém. Embora saiba que ser autêntico é um grande desafio neste mundo photoshopado. O velho e bom senso caiu de moda. A camuflagem reina. Li sei lá onde, que “Ninguém é tão feio como na identidade; tão feliz quanto no Facebook; tão simpático como no twitter; tão ausente como no Skype; e nem tão bom quanto no Currículo.”
Acho-me no segundo round da existência. Presumo que não sou dos que viverão muito por aqui. E assim vou ficando seletivo com escolhas, caminhos e amizades. Não posso, não quero e não tenho tempo a perder, com quem só tem tempo a perder com questões rasteiras. Não busco zona de conforto, não, quero o direito de escolher as batalhas de grandes portes, não as guerras nanicas do cotidiano. Sempre que possível, quero milhas de distância de gente queixo duro, metida a besta, mente estreita. Gente que se estende horas a fio com blablablas e turrazinhas, enquanto passarinhos cantam lá fora. Há campos de girassóis para se ver.
Dentro do processo de qualidade total existe aquela técnica chamada just-in-time, que consiste em eliminar os excessos de equipamentos, mão de obra e estoque. Ou seja: Desperdício zero. Preciso da aplicação deste princípio em meu cotidiano de vida. Repito como um mantra: “Tem coisas que devo colocar dentro do coração. Tem coisas que devo jogá-las longe dele.Tenho medo de que o Senhor a Vida, de repente, resolva fazer comigo o que fez com Ezequias (Um personagem bíblico), Quem já leu? Foi dito a ele:”Ponha ordem em tua casa porque morrerá, não viverá”.O moço orou e chorou feito criançinha de colo. Mas, com ele, o estremelique deu certo, acabou recebendo uma sobrevida de 15 anos. Vai que eu não tenha a mesma sorte. Just-in-time, em meu interior, ou seja, leveza, plena harmonia no coração e na mente.
Vergonha de ter nascido na roça? Eu, não! Repito que tenho orgulho em dizer que comecei rabiscando a carvão no fogão a lenha de minha vò. Ou com um giz de argila, deixei marcas nas tábuas do curral, nas paredes da casa de queijo, nos troncos das mangueiras. Disparei grafando o meu nome em tudo. Parecia um Sumério que descobriu a escrita. Naquele tempo, escrever, era um fascínio; ficou lúdico; tornou-se, hobby e virou vício crônico. Hoje ainda, é difícil me encontrar sem uma caneta e um folha de papel. Minha relação com a escrita é sinestésica. Gosto de ouvir o perfume das palavras diante de meus olhos. Gosto do papel em si, sua textura, sua alma. Sou fissurado pela tinta no papel. Pela comunicação impressa que a tudo resiste. Confesso que tudo o que sei devo aos livros . Devo a leitura. Devo a literatura, que é o maior bem divino para a humanidade.
Quando Oscar Schmidt, parou de jogar, colhi dele uma frase porreta: ”Pode aparecer quem faça mais ponto do que eu; pode aparecer quem treine mais do que eu; mas jamais vai aparecer quem ama mais o basquete do que eu”. Posso dizer o mesmo quanto ao livro. Quanto a leitura. Quanto a escrita. “Atrás de morro, tem morro”, sim, sinhor. Conheço quem escreve bem e por Deus, não me arrogo a isto. Absolutamente, não estou a competir com ninguém. Meu ofício eterno é de eterno aprendiz.
Sigo em busca do que me acrescenta, promove e dignifica como ser humano. Por isto, tem sites e blogs que nem leio mais. Senti que era um campo minado online. E repito, não tenho tempo a perder com quem nivela a vida nos pântanos da mediocridade. E também repito. Não tendo nada e ninguém, ditando o que escrevo. Quando sentir de parar de escrever, mudo a macha, faço uma terapia e paro. Poderão me ver em outro ramo da arte, pois, “ a arte existe porque a vida não basta”. (Ferreira Gullar, sempre matando a pau). Quem sabe estarei cuidando de jardim. Oxalá me tornar um luthier e fundar um hospital de instrumentos. Quem sabe indicar leitura edificante numa biblioteca. Posso caçar borboletas ou contar histórias para alguma criança dormir. Tarefas as quais acho muito parecidas com o ato de escrever.
Sigo colecionando trechinhos áureos que me enche o ser de luz, seja em livros ou filmes Do filme “O Gladiador” no qual o personagem General Maximus precisa vencer um grande desafio, brada para os seus guerreiros: “ O que fazemos na vida, ecoa na eternidade” Guardei. Não posso perder esta perspectiva. O céu nos acompanha.
Engraçado como a vida nos burila. Já quis reformular tudo a minha volta. Ia para o choque a toa, já chamei o mundo no braço por pouco. Vai longe o dia em que tomei um livro das mãos de uma ‘Testemunha de Jeová’ e cortei-o em quatro pedaços numa guilhotina, só por que, contrariando o meu pedindo, o cara insistia em fazer proselitismo com sua literatura, com alguns de meus amigos... Mais tarde, esse cara de quem cortei o livro, me livrou de um acidente fatal. Tentando pular entre os vagões do trem de ferro, que se encontrava parado, justo na minha vez, estava entre os vagões, quando o trem aluiu bruscamente. Ele me empurou para trás, me livrando,sei lá, do pior. O cara me pagou com outra moeda. "C'est la vie", ou não é?
Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhos, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, quer não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer. Sentia-me mais ou menos como este galo. Já me achei, pretencioso por ai. Já quis a primeira e bombástica palavra na roda; depois quis ter a última, a mais sóbria; hoje, muita vezes, prefiro a sabedoria do silêncio. Tenho poucas respostase aumentram drasticamnte as perguntas.
Enquanto escrevia, exaltei minha aldeia, instiguei debates, provoquei emoções, colecionei desafetos, sobretudo, fiz amizades para além desta existência.
Enquanto escrevo vou repetindo Adélia Prado: Ainda, "Tenho dezoito anos incompletos". Isto porque, embora cinqüentão, o cabelo preto in natura, não fala da minha idade. È verdade que preciso administrar melhor o meu tempo e compromissos. Em meu trabalho, acostumei com uma rotina pesada. Onde cada vez mais se exige vigor físico, determinação, produtividade, perfeição, agilidade e paciência. Mesmo fustigado por este referido cansaço físico, não posso, contudo, empurrar alguns sonhos com a barriga. Tenho muitos "ainda quero". Ainda quero visitar Inhotim, numa primavera. Ainda quero tomar uma taça de vinho lá na Toscana. Ainda não curti a Aurora Boreal na Suécia. Ainda vou conhecer a Biblioteca da Universidade de Coimbra, em Portugal. Ainda quero, numa manhã destas, ir de trem de Belo Horizonte a Vitória. Nem conheço o Museu da língua portuguesa.
Se Deus me chamar agora para o piso superior, vou. Mas vou fazendo o beicinho da contrariedade. Preciso de muitas tardes e manhãs perfumadas para ficar aos pés dos mestres, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Manuel de Barros, Drummond, Machado de Assis, Manuel de Barros, Jorge Luiz Borges, Clarisse Lispector, Guimarães Rosa, Thiago de Mello, Fabrício Carpinejar, Affonso Romano de Sant'Anna e Adélia Prado.
Declaro para todos os fins, que pretendo permanecer neste planeta por um bocado de anos. Assim, pleno e intenso na palavra e na atitude. Hoje com este breve olhar retrospectivo, se me permitem a petulância, digo que tenho um orgulho incrível deste meu existir. Até aqui, tenho adormecido e despertado com a consciência leve feito pluma. Escrevendo ou não, pretendo gastar os próximos anos palmilhando o caminho do bem. Levando o essencial na bagagem, sem perder a ternura na alma. A expressividade no ser e o encantamento pela vida simples. Graças a Deus, continuo produtivo, esperançoso, aguerrido... e feliz.