25 de Outubro de 2014 às 12:38

Quando Palhaços Discutem...

Aqueles que gostam de se confrontar em nível pessoal, apenas para aparecer, ganhar pelejas ou firmar dogmas, acabam se transformando em palhaços. Políticos trocando farpas com discursos irados: palhaços. Imprensa posando de dona da verdade: palhaçada...

O poeta  moçambicano Mia Couto, tem um texto interessantíssimo, gostaria de compartilhar. Se você também detesta palhaçada na política, na imprensa, na religião em qualquer seguimento da vida na sociedade. Seria cômico se não fosse trágico:

"QUANDO PALHAÇOS DISCUTEM

Uma vez dois palhaços se puseram a discutir. As pessoas paravam, divertidas, a vê-los.

- É o que?, perguntavam.
- Ora, são apenas dois palhaços discutindo.

Quem os podia levar a sério? Ridículos, os dois cômicos ripostavam. Os argumentos eram simples disparates, o tema era uma ninharice. E passou-se um inteiro dia.

Na manhã seguinte, os dois permaneciam, excessivos e excedendo-se. Parecia que, entre eles, se azedava a mandioca.

Na via pública, no entanto, os presentes se alegravam com a mascarada. Os bobos foram agravando insultos, em afiadas e afinadas maldades. Acreditando tratar-se de um espetáculo, os transeuntes deixavam moedinhas no passeio.

No terceiro dia, porém, os palhaços chegavam a vias de fato. As chapadas se desajeitavam, os pontapés zumbiam mais no ar que nos corpos. A miudagem se divertia, imitando os golpes dos saltimbancos. E riam-se dos disparatados, os corpos em si mesmos se tropeçando. E os meninos queriam retribuir a gostosa bondade dos palhaços.

-Pai, me dê as moedinhas para eu deitar no passeio.
No quarto dia, os golpes e murros se agravavam. Por baixo das pinturas, o rosto dos bobos começava a sangrar. Alguns meninos se assustaram. Aquilo era verdadeiro sangue?

-Não é a sério, não se aflijam, sossegaram os pais.
Em falha de trajetória houve quem apanhasse um tabefe sem direção. Mas era coisa ligeira, só servindo para aumentar os risos. Mais e mais gente se ia juntando.

- O que se passa?

Nada. Um ligeiro desajuste de contas. Nem vale a pena separá-los. Eles se cansarão, não passa o caso de uma palhaçada.

No quinto dia, contudo, um dos palhaços se muniu de um pau. E avançando sobre o adversário lhe desfechou um golpe que lhe arrancou a cabeleira postiça. O outro, furioso, se apetrechou de simétrica matraca e respondeu na mesma desmedida.

Os varapaus assobiaram no ar, em tonturas e volteios. Um dos espectadores, inadvertidamente, foi atingido. O homem caiu, esparramorto.

Levantou-se certa confusão. Os ânimos se dividiram. Aos poucos, dois campos de batalha se foram criando. Vários grupos cruzavam pancadarias. Mais uns tantos ficaram caídos.

Entrava-se na segunda semana e os bairros em redor ouviram dizer que uma tonta zaragata se instalara em redor dos dois palhaços. E que a coisa escaramuçara toda a praça. E a vizinhança achou graça.

Alguns foram visitar a praça para confirmar os ditos. Voltavam com contraditórias e acaloradas versões. A vizinhança se foi dividindo, em opostas opiniões. Em alguns bairros se iniciaram conflitos.

No vigésimo dia se começaram a escutar tiros. Ninguém sabia exatamente de onde provinham. Podia ser de qualquer ponto da cidade. Aterrorizados, os habitantes se armaram. Qualquer movimento lhes parecia suspeito. Os disparos se generalizaram.

Corpos de gente morta começaram a se acumular nas ruas. O terror dominava toda cidade. Em breve, começaram os massacres.

No princípio do mês, todos os habitantes da cidade haviam morrido. Todos exceto os dois palhaços. Nessa manhã os cômicos se sentaram cada um em seu canto e se livraram das vestes ridículas. Olharam-se, cansados.

Depois, se levantaram e se abraçaram, rindo-se a bandeiras despregadas. De braço dado, recolheram as moedas nas bermas do passeio. Juntos atravessaram a cidade destruída, cuidando não pisar os cadáveres. E foram à busca de uma outra cidade“.

Bem oportuno o texto do Mia Couto.  E a moral da estória seria: Aqueles que gostam de se confrontar em nível pessoal, apenas para  aparecer, ganhar pelejas ou firmar dogmas, acabam se transformando em palhaços. Políticos trocando farpas com discursos irados: palhaços. Imprensa posando de  dona da verdade: palhaçada. E quando bufões pelejam, minha geração, minha vida, a vida de minha família, vida de meus amigos, se esvaindo. Enquanto isto, muita gente pode estar literalmente morrendo. 

No caso de Patrocinio, é o Progresso que tem morrido nestes embates de palhaços. Panelinha A versus Panelinha B; Panelinha X versus panelinha Y. Atém quando?. Ano de  eleições, fomos obrigados a ficar na platéia deste  circo, assistindo as cenas burlescas.

Meu negócio aqui, é Patrocínio por inteiro. Meu negócio é o futuro de Patrocínio com sério planejamento  político, social e econômico. Governos técnicos, solucionando problemas críticos,  com metas de curto, médio e longo prazo.

Torcendo sempre  pela evolução e civilidade do ser humano, mas ainda não foi nestas eleições..