Com informações e foto da Agência Local de Comunicação Organizacional do 46°BPM e Universidade Federal de São João del-Rei
PATROCÍNIO (MG) – A Ascom do 46º BPM divulgou na manhã desta quinta-feira, 9/10, sobre a ocorrência grave de intoxicação alimentar que foi registrada na tarde de quarta-feira, 8/10, por volta das 15h13min, na zona rural de Patrocínio. LEIA AQUI
Segundo a PM, uma equipe da Polícia Militar prestou apoio ao Corpo de Bombeiros e ao SAMU, e, ao chegarem ao local, as equipes de socorro constataram que quatro pessoas da mesma família, sendo uma mulher e três homens, apresentavam sintomas de envenenamento.
Imediatamente foram iniciados os procedimentos de primeiros socorros e o transporte das vítimas para unidades hospitalares da cidade.
Conforme levantamentos preliminares da PMMG, a intoxicação teria ocorrido de forma acidental, após o consumo de folhas de uma planta silvestre confundida com couve, popularmente conhecida na região como “fumo bravo”.
O vegetal foi encontrado nas proximidades da cozinha da residência, reforçando a hipótese de erro na identificação da planta durante o preparo da refeição.
O material vegetal suspeito foi recolhido para a Perícia Técnica da Polícia Civil, que realizará análises para confirmar a espécie e identificar eventuais substâncias tóxicas envolvidas. As vítimas foram encaminhadas ao Pronto-Socorro Municipal e à Santa Casa de Misericórdia.
Três delas permanecem internadas em estado grave e uma segue em observação médica.
Segundo UFSJ Universidade Federal de São João del-Rei, a nicotiana glauca é da mesma família que a nicotiana tabaco, nome científico da folha do fumo. Entretanto a anabasina - substância presente na falsa couve - é cinco vezes mais potente que a nicotina e a ingestão da folha causa um quadro sério de intoxicação. Seus primeiros sintomas são vômito e mal-estar, mas ela ainda pode causar a perda dos movimentos das pernas e até parada respiratória. Há registro, inclusive, de um caso na zona rural de Divinópolis: um casal ingeriu a couve do mato e procurou o hospital logo após apresentarem os sintomas de intoxicação. Por já ter outra doença e se tratar de uma pessoa idosa, um dos pacientes não resistiu e faleceu.
Identificação
É importante saber identificar os detalhes da falsa couve para evitá-la e, assim, prevenir a intoxicação. O professor do curso de Biologia da UFSJ, Marcos Sobral, foi o botânico responsável por identificar a falsa couve na região em parceria com o professor João Máximo, e destaca a importância de se observar as flores da planta: “A identificação é feita pelo estudo da flor. As pessoas que conhecem bem a planta até reconhecem pelas folhas, mas, pra ter certeza, é fundamental a análise das flores.”
Estudando a toxicidade da falsa couve
Como as flores da couve mostarda dependem da estação do ano em que ela se encontra, o professor João Maximo desenvolve, com o auxílio de estagiários do curso de Biologia, um estudo de sazonalidade no Centro de Informações Sobre Medicamentos, Plantas Medicinais e Tóxicas (CIMPLAMT). O trabalho envolve observar o teor da substância tóxica presente na nicotiana glauca ao longo de um ano de coleta.
“Achamos uma pessoa que tinha a planta em sua chácara, ela protegeu o espécime e nós coletamos sistematicamente todo o mês nos diferentes estágios da planta. Além disso, fizemos o cultivo in vitro”. João Máximo explica que a coleta tem duração de um ano: “Ffzemos cultura de células para pegar a planta em todos os estágios que ela está para, afinal, definir qual a época mais tóxica dela”, explica o professor. A apuração dos resultados da pesquisa acontece entre julho e agosto deste ano.
CIMPLAMT
O CIMPLAMT vai além do trabalho com a falsa couve. Uma das ações importantes é a verificação de formulações falsas, como misturas sintéticas de anti-inflamatórios e corticóides vendidos como naturais.
Outra análise é a de plantas conhecidas por, supostamente, serem benéficas para o câncer. “Existem algumas plantas que atuam na patologia, mas não melhoram a doença porque a quantidade de princípios ativos presentes é muito baixa, e acaba causando mais efeitos colaterais”, explica o professor. Nesse caso - o da babosa, por exemplo -, o CIMPLAMT procura realizar um trabalho de esclarecimento.
Caique Lopes Duarte foi um dos estagiários do Centro no primeiro semestre deste ano e conta que visitou algumas pessoas que os receberam para avaliar as plantas presentes em suas residências. “Depois dessa visita, observamos se alguma das plantas pode ter alguma interação com os medicamentos que a pessoa toma e, para isso, fazemos uma avaliação de quais medicamentos ela faz uso. Vemos, também, se elas podem ter algum efeito tóxico”. Depois de uma pesquisa na literatura farmacêutica, os estagiários discutem a situação e tomam uma decisão: “Se encontramos alguma planta que seja tóxica, nós orientamos as pessoas a não fazerem o uso”, explica Duarte.
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