15 de Dezembro de 2025 às 23:28

P.O.L. entrevista o Cientista Brasileiro que está na Lista da Revista Nature 2025,como uma das dez pessoas mais importantes e influentes para a ciência em 2025

Luciano Moreira é CEO da Wolbito do Brasil, a maior biofábrica do mundo que cria Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, um programa inovador que tem reduzido drasticamente a incidência da Dengue, Zika e Chikungunya

Reportagem Patrocínio On-line - Fotos cedidas por Wolbito do Brasil

O Patrocínio On-line (P.O.L.) entrevistou o cientista brasileiro Luciano Andrade Moreira, que integra a lista das dez pessoas mais importantes e influentes para a ciência em 2025 da prestigiada rNature. Fundada em 1869,é uma das revistas científicas mais prestigiadas e influentes do mundo, publicada semanalmente, que apresenta pesquisas originais e revisadas por pares em todas as áreas da ciência e tecnologia, além de notícias e análises sobre tendências científicas.

Moreira é o CEO da Wolbito do Brasil, a maior biofábrica do mundo que cria Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia. Este programa inovador tem reduzido drasticamente a incidência de doenças transmitidas por mosquitos nas áreas onde foi implementado.

Reconhecimento internacional e liderança em Ciência

Luciano Andrade Moreira, ex-pesquisador de saúde pública da Fiocruz, foi selecionado pela revista Nature por liderar uma pesquisa que utiliza mosquitos contendo a bactéria Wolbachia para reduzir a transmissão da dengue. Sua inclusão na lista da Nature é um marco importante na luta do Brasil contra as doenças transmitidas por mosquitos, ajudando a expandir o acesso a este método de controle baseado na natureza em todo o país.

Atualmente, ele dirige a Wolbito do Brasil, uma joint venture entre o World Mosquito Program (WMP), a Fiocruz e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), que recentemente iniciou a produção de mosquitos.

Resultados comprovados do Método Wolbachia

Em entrevista ao Patrocínio On-line, Luciano Moreira celebrou os bons resultados do projeto, destacando a eficácia do método no controle da dengue:

  • Niterói (RJ): Um dos municípios pioneiros no Brasil a adotar o método Wolbachia, a liberação dos mosquitos "wolbitos" foi concluída em dezembro de 2023. A intervenção resultou em uma queda de aproximadamente 89% nos casos de dengue na cidade. Em 2024, a taxa de casos de dengue em Niterói foi de 336 por 100.000 habitantes, significativamente inferior à taxa nacional de 3.121 no mesmo período.

  • Campo Grande (MS): Implementado em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde e a Fiocruz, um estudo recente apontou que a liberação em massa dos mosquitos com a bactéria resultou em uma redução de 63% nos casos de dengue no município.

A eficácia do método foi cientificamente validada, como em um estudo aceito para publicação pela revista The Lancet Regional Health – Americas.

Expansão

Moreira está empenhado em dar continuidade ao trabalho com o WMP e a Fiocruz, auxiliando na expansão do projeto no Brasil sob a tutela do Ministério da Saúde. O projeto já teve início em outras cidades brasileiras, como Uberlândia (MG), na região de Patrocínio.

"Nosso objetivo é reduzir significativamente o número de casos de arbovirus no país. Em dez anos, teremos protegido mais da metade da população brasileira."

Ele recomenda aos prefeitos da região que busquem o Ministério da Saúde para implementar o projeto em seus municípios.

Estudo Clínico em Belo Horizonte (MG)

Em Belo Horizonte, um Estudo Clínico Randomizado Controlado foi concluído. Luciano Moreira explicou a abordagem: "É um pouco diferente do que fizemos na Indonésia. A cidade tinha 58 aglomerados, que foram projetados em torno de escolas públicas, então a ideia era acompanhar crianças de cerca de seis a onze anos durante quatro anos, porque elas provavelmente não tiveram contato com a dengue antes. Os testes de laboratório mostrarão que onde Wolbachia foi estabelecida — em metade desses agrupamentos na cidade —, esperamos ter menos transmissão da doença nessas crianças. A análise deve ser concluída no início do próximo ano."

Como Funciona o Método Wolbachia

O método consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti contendo a bactéria Wolbachia. Esta bactéria age impedindo o desenvolvimento dos vírus da Dengue, Zika e Chikungunya no mosquito, interrompendo sua transmissão para os humanos.

A parceria formal entre o WMP e a Fiocruz, que já dura anos, ajudou a proteger mais de cinco milhões de brasileiros em oito cidades na última década. Com a incorporação do método pelo Ministério da Saúde, a expectativa é que esse número chegue a mais de 140 milhões de pessoas em 40 municípios nos próximos anos.

A Biofábrica Wolbito do Brasil

A Wolbito do Brasil, sediada em Curitiba, é a maior biofábrica de criação de Aedes aegypti com Wolbachia do mundo. Lançada oficialmente em julho, a biofábrica amplia o acesso a este método que reduziu significativamente a incidência de dengue, Zika e Chikungunya no Rio de Janeiro e em Niterói desde 2014.

"A biofábrica terá a capacidade de produzir 100 milhões de ovos de mosquito por semana", afirmou Luciano Moreira.

A Trajetória da Pesquisa: De Malária à Wolbachia

Luciano Moreira iniciou sua experiência com a Wolbachia na Austrália, trabalhando com Scott O'Neill, após uma pesquisa anterior focada em malária. O processo, que levou tempo, foi intencional:

"Estávamos tentando reunir todas as evidências científicas robustas, tanto em laboratório quanto em nossos testes de campo. Priorizamos a ciência como um passo importante em cada detalhe do nosso trabalho, o que ajudou a ganhar a confiança de órgãos como o Ministério da Saúde, que viu nossos resultados excepcionais."

Inicialmente vista como uma pesquisa acadêmica ligada à Fiocruz, há dois anos a Wolbachia se tornou parte integrante das iniciativas de saúde pública para controle da transmissão de doenças. "Assim, o Ministério da Saúde viu esses resultados iniciais e agora quer realmente expandir o método como parte da coordenação nacional para o controle da dengue”, salientou Moreira.

Conheça o Cientista: Luciano Andrade Moreira

  • Formação: Engenheiro Agrônomo (UFV), Mestrado em Fitotecnia (UFV), Doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas (UFV e CPRO-DLO, Holanda).

  • Pós-doutorado: Case Western Reserve University (Cleveland-OH), na área de mosquitos e malária, e Universidade de Queensland (Austrália).

  • Carreira:

    • Pesquisador em Saúde Pública do Instituto René Rachou/FIOCRUZ desde 2002.

    • Participou da descoberta do bloqueio da bactéria Wolbachia aos vírus transmitidos pelo Aedes aegypti durante seu pós-doutorado na Austrália.

    • Líder do Método Wolbachia no Brasil desde 2012.

    • Atualmente, CEO da Wolbito do Brasil.