3 de Agosto de 2014 às 09:58

Passeio pelo coração da cidade

Quando saímos para flanar (bater perna), passear no coração da cidade que amamos, na verdade é ela, com a sua história, sua cultura, seus valores, seus atributos, seus pleitos, que passei dentro do nosso coração...

Após dois, três dias de chuva fina e fria – aliás, excepcional para o mês de julho, em nossa região -  uma aragem tênue se fez na cidade. Um dia típico para saborear, um cafezinho, um capuccino, ler, ver um filme legal, ouvir  bossa nova. Ou, bater perna com amigos no coração da  cidade. Mas, que amigo se habilitaria... O telefone toca, a voz amiga e inconfundível de Rondes Machado: Podemos dar um giro pela cidade, agora, Milton?”. Quinze minutos depois, conforme o combinado, já estávamos, (lembrando um termo do João do Rio, na “A alma encantadora das ruas”)    “flanando” calmamente pelas ruas e logradouros de Patrocínio.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO, NEGATIVA

Já na esquina da Rua Jacob Marra com Martins Mundim, inicia-se a construção de um prédio. Uma esquina depois, outra obra saindo do chão. A cidade vive um momento em que se deve manter o sinal amarelo (acho até  que  vermelho) acionado. Nunca se viu tantas construções em andamento, verticalizando a cidade. O que em tese, seria bom. O problema é.  Nunca se demoliu tantas casas antigas.(FOTO) Nota-se isto em poucos quarteirões observando a cidade. A pergunta salta: Tem alguém com conhecimento técnico e sensibilidade, acompanhando esta operação demolidora?  Cadê os defensores do patrimônio histórico? Vê-se que os “devastadores do passado” estão á vontade. Vem de longe esta labuta inglória para preservar a destruição indiscriminada.  Na França do século 19, lá estava o romancista Victor Hugo, que, por meio do manifesto Guerra aos Demolidores, escrito em 1825, já denunciava este  vandalismo.  “Há duas coisas em um edifício”- dizia ele –seu uso e sua beleza. Seu uso pertence ao proprietário, sua beleza a todo mundo”. Isto. Progresso com bom senso, é bom, eu gosto.

BAIRRO SÃO VICENTE, ARQUITETURA POPULAR

Logo, Rondes e eu,  já estávamos no bairro São Vicente- Fundão da Matriz - percorrendo  a  Rua  José Feliciano. Como era  a tarde chuvosa de um sábado, nenhuma vivalma na rua. A cidade respirava serenidade, tranquilidade e paz. Rondes, chama a atenção para a arquitetura popular. Casas simples de muito bom gosto.Até me lembrei da canção do Pato Fu:“Quanto mais simples a casinha, mais sincero o bom dia.” Algumas daqueles casas estão  abaixo do nível da rua,sugerindo que foram construídas bem antes do asfalto passar. Casas bem conservadas, pintadas periodicamente. Algumas com bancos nas calçadas para aquela conversa mineira no final da tarde.

ESCOLA  DOM LUSTOSA.

O “templo perene da educação, da cultura e do esporte”. De pronto, Rondes, deu falta da casa do PROFº FRANKLIN,(FOTO MARÍLIA BRANDÃO) que era na  rua Furtado de Menezes bem de frente os portões da escola.  Virou pó. A gana insana da destruição, não teve piedade, nem   consideração pela augusta memória de um dos maiores mestres da educação patrocinense de todos os tempos. Ninguém cogitou que sua residência poderia ser tombada . Poderia ser um centro de cultura... Poderia...O carro contornou todo o quarteirão que a escola ocupa, com um quê de reverência tibetana. Parecendo saber a importância que aquela instituição ocupa na formação moral, cívica, religiosa, intelectual e esportiva de seu condutor. É sobejamente sabido que este  educandário foi a base sólida, ou, o grande farol na existência de milhares de ex-alunos espalhados por este país. Rondes Machado,  foi um deles. Aos vinte e um anos, com um  diploma de técnico em contabilidade, mudou-se para Beagá,logo para o Rio de Janeiro, se capacitou,continuamente  e trabalhou como contador na holding CAEMI. A guisa de conhecimento, esta mineradora, foi um dos maiores empreendimentos do país,  o quarto maior do mundo no setor de minério de ferro, chegou a ter 80 mil funcionários. O patrão de Rondes, foi ninguém menos do que Augusto Trajano de Azevedo Antunes - O Dr.  Antunes.O homem que merecia um feriado cívico e uma estrela no pavilhão nacional. Era um brasileiro puro-sangue. A jazida mais valiosa que Deus colocou em terras brasileiras” (Quem disse? Eliezer Batista, pai de Eike Batista). Nosso giro pela cidade continuava...

CENTRO DE ARTES E ESPORTES UNIFICADO - PRAÇA MÁRIO ALVES DO NASCIMENTO.

Uma pausa para conhecer melhor o projeto  recentemente inaugurado, localizado no terreno do antigo clube União Operária, bairro Marciano Brandão.Uma surpresa, ninguém, ninguém naquelas imediações. Nada funcionando, nenhum curioso por ali. Estranho. Percorremos o interior, pista de skate, quadra poliesportiva coberta, laboratório de informática, biblioteca, uma nova unidade do Cras, além de pista de caminhada e parque infantil. Mas, tudo inaugurado ao público e fechado.(FOTO) Rondes, fez-me  uma pergunta porreta:”Quem vai administrar isto aqui?” Era uma vez um  icônico clube - o União Operária -  obviamente, a responsa  estaria a cargo da diretoria eleita pelo seu quadro associados. Contudo, porém e entretanto, o  magnífico projeto está sob a tutela da prefeitura, que o encampou.  Deixa quieto, no dizer de Quintana:  Eu nada entendo da questão social. Eu faço parte dela, simplesmente

CASARÃO DA MATRIZ

Com a virtude da boa memória, Rondes, segue, evocando boas lembranças;” Aqui morava, Zé Luiz, detalhe, todos da família gostavam de futebol”. “Aqui morou Francisco Otávio Brito, era coletor federal”. “Ali morou José Queiroz”. Praça da Matriz. Parada obrigatória para visitar o lendário casarão.(advinhou! hermeticamente, fechado no sábado a tarde). Rondes, também, ficou alarmado com a situação física daquele prédio. (FOTO) Está a caminho de um desabamento. E não é exagero, não!. O sol, a chuva, os anos, os séculos, as trincas,os fungos,as brocas, os cupins, o descuido, o diabo a quatro, vem sutilmente deteriorando, carcomendo as suas entranhas.Quando acordarem pode ser muito tarde.É uma construção de meados do século XIX (1850)  foi feita pelo  Teodoro  Honorato Gonçalves. Na versão do historiador "Menestrel Rangeliano"- Eustáquio Amaral: “O  casarão foi construído para ser a sede da administração municipal  e, ao mesmo tempo residência  do presidente da Câmara Municipal  (que exercia a função de prefeito) seu primeiro ocupante  até 1876  é Francisco Martins Mundim, um comprador de diamantes. Permanece como prefeitura até  o final da década de 70, quando  Afrânio Amaral, no seu primeiro mandato inaugura o Centro Administrativo" O prédio já foi também agência do INPS e a partir de 1981, passou a abrigar a  Fundação  Casa a Cultura, Odair Jose de Oliveira.  E atualmente é a sede do Museu Profº Hugo  Machado da Silveira.Escreva lá, Milton” - Disse, Rondes -  “quer levar um baita susto, leitor, venha ver a situação deste  casarão”.

PRAÇA HONORATO BORGES

Para se aquilatar a importância desta praça bastaria  dizer que o local  abriga, pelo menos, quatro ícones do patrimônio histórico, cultural e arquitetônico da cidade. Escola Honorato Borges; Superintendência Regional de Ensino; Prédio do antigo Cine Rosário; prédio do antigo Banco do Comércio e Indústria. Ali a memória de Rondes, flue:  “Aqui acontecia o vai- e -vem dos jovens da época. “Ali era o caramanchão;” “lá era a residência do Dr Benedito Romão de Melo - Ditinho”. Seguimos caminhando e proseando  pela praça. De repente, Rondes, encontra o que eu nunca havia visto naquela praça. Uma árvore, ( cuja a espécie não deciframos no momento)  plantada, ali, pelo Banco Itaú, com os dizeres: “Homenagem do Banco Itaú em seus 50 anos á natureza e ao futuro. 21/09/95” Uma borboleta passa por nós  com seu vôo alquebrado, lembre-me  do Teatro Mágico: Borboleta parece flor que o vento tirou pra dançar. Tudo muito bem, tudo muito bom, porém, há algo na  praça que nos tem  preocupado, mostramos  ao Rondes, o qual comungou da mesma preocupação.  As placas com a síntese da história da cidade, relíquia escrita pelo historiador Joaquim Carlos dos Santos, ESTÃO COMPLETAMENTE DETERIORADAS.(FOTO) Já não é possível  ler as inscrições nelas grafadas. È inconcebível a perda de um patrimônio histórico desta grandeza  por negligência. Lança um desafio em sua coluna com premiação, vejamos quem consegue decifrar a escrita destas placas” - Disse, nosso patrocinense/carioca. E logo tive  uma idéia, citamos o nome do Banco Itaú, acima  e  foi de bom alvitre.  Sugerimos que, o mesmo, atualmente  denominado Itaú Unibanco- uma das maiores instituições financeiras do mundo - que como se viu,  ao plantar uma linda árvore, criou um antigo laço afetivo, com a Praça Honorato Borges, que, este formalize uma parceria inteligente com o poder público municipal e através de programas como Itaú Cultural, revitalizem estas placas que estão em estado periclitante.Podemos esperar?

DE VOLTA, amenidades, tais, como: Nadir das Baterias não concorda que Pelé tenha sido denominado o “Rei do Futebol” . Rimos.É maior de idade e vacinado, as explicações é lá  com ele, por favor.

 A CIDADE PASSEIA NO CORAÇÃO DA GENTE

Mencionei a chuva e o frio no princípio desta “colcha de retalho” que quer ser chamada de crônica, porém, de regresso a  casa, nada mais sei deles, talvez já fizesse até sol. Afinal, dever  ter  sido  aquele  mistério que transcende  tempo e espaço. Quando saímos para flanar (bater perna), passear   no coração da cidade que amamos, na verdade é ela – a nossa cidade-mãe  - com  a sua história, sua cultura, seus valores, seus atributos, seus pleitos, seus vínculos eternos, seus vultos célebres e seu regaço maternal,  que passeia pelo nosso  coração.

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NÍVER  ESPECIAL

 Agosto não apenas  nos traz as manhãs mais lindas do ano, logo no primeiro dia do mês, nos traz a data querida de uma pessoa portadora de luz. Ela é MARIA TEODORA DE LIMA, DORA, para aqueles que tem o privilégio de desfrutar de sua amizade. Pense numa pessoa discreta, distinta, carismática, generosa, gentil e de convivência agradável. Que a mamãe da Renatinha, alcance um futuro longo e com ele, toda felicidade que tanto merece. Parabéns!

(Publicado em 02/08/14 na coluna O Meio e Mais,  Gazeta de Patrocínio)