1 de Abril de 2015 às 21:18

O Bilhete do Dr. Paulo Pereira e a Carta Relíquia

Uma missiva bastante conhecida. Escrita há quase 80 anos, pedia UNIÃO DE FORÇAS POR PATROCÍNIO. Seu teor jamais foi posto em pratica por estas plagas....

Recebemos do Ex-Deputado Estadual, patrocinense, ( Constituinte Mineiro)  Dr. Paulo Pereira, (Foto) um texto que é uma verdadeira relíquia. Uma missiva  bastante conhecida. Escrita há quase 80 anos, pedia UNIÃO DE FORÇAS POR PATROCÍNIO. Seu teor jamais foi posto em pratica por estas plagas... Acontece que somos na essência um povo de unidade, de  entendimento (virtudes as quais  pouco exercemos na política) Tenho curiosidade em saber, qual foi o desdobramento desta carta. Será se o missivista conseguiu o seu intento nobre? (Nos mesmos termos, com o nosso fiozinho de voz, continuamos pedindo. Sem alinhamento político, sem união de força, de propósito, a cobra vai continuar correndo atrás do próprio rabo, pelos  séculos dos séculos)

Acompanha  a cópia da  citada carta, um delicioso bilhete manuscrito do Dr. Paulo Pereira, não resisti, suas sensatas e oportunas palavras, achei de bom alvitre compartilhá-lo, também:

“MEU CARO MÍLTON,

Não sei se você tem, mas consegui cópia de uma carta do Cel. Elmiro Alves do Nascimento, avô do amigo Betinho, ao Cel. João Cândido de Aguiar, pai do saudoso e inesquecível Enéias Ferreira de Aguiar, o maior prefeito de todos os tempos de nossa cidade, pois resolveu, sem receber salários e colocando dinheiro do próprio bolso. As três principais demandas de qualquer cidade:  Água, “Daepa”, Energia, “Cemig” e Comunicação “Telefônica”. Nesta carta o Cel. Elmiro, sugere  ao Cel.João Cândido, um acordo político entre os dois partidos dominantes na época. A história se repete. Gostei da sua reportagem referente ao grande empreendedor  e amigo patrocinense, Gentil  Nascimento. Quando deputado estadual apresentei projeto aprovado por unanimidade na Assembléia  de Minas Gerais e transformado em lei pela sanção do governador de Platão, dando o nome de Gentil Nascimento, a rodovia que liga  a Estância Hidromineral Serra Negra, á rodovia 365. Uberlândia - Montes Claros.

Receba o abraço, sempre amigo do admirador atento, Paulo Pereira” – (BHte, 09.03.15)

 

“CARTA DE UM LÍDER POLÍTICO PARA OUTRO LÍDER 

Ilmo. Sr Cel.  João Cândido de Aguiar

 Na qualidade de Presidente do Partido Municipal Patrocinense  e interpretando o modo de pensar de todos os meus correligionários, julgo-me no dever de dirigir-lhe a presente carta, que é um apelo veemente aos seus sentimentos de patriotismo e dos seus companheiros de Diretório, para propor-lhes, dentro de uma fórmula honrosa e nobre, a pacificação da família política patrocinense.

Nesta hora de apresentação e dúvidas, por que passa a estabilidade do regime, ameaçado por ideologias extravagantes, que procuram ferir o ritmo da vida nacional, é dever indeclinável de todo cidadão, que seja depositário de qualquer parcela de responsabilidade pelos destinos públicos, cooperar para que uma paz duradoura em todo o Brasil se opere e permita a continuação da obra governamental, profícua e benemérita, que o Sr. Presidente Getúlio Vargas e o Sr. Governador Benedito Valadares estão realizando.

 Após a luta partidária, sem precedentes, que se feriu neste município, por ocasião das eleições de junho passado, dividindo a família política patrocinense e enviando-lhe a vida social de ódios e rancores, ao se aproximar a hora de reingressar o município na vida constitucional, julgo do meu  dever sugerir uma fórmula capaz de restabelecer a tranqüilidade entre nó, mesmo que para tal seja necessário o recalque de ressentimentos e a prática de transigências que não desdoirem nenhuma das facções.

 Tendo os dois partidos, por nós chefiados, os seus respectivos candidatos a Prefeito e Presidente da Câmara, uma conciliação só pode dar com afastamento dos nomes dos mesmos e a apresentação de outros que reúnam predicados de simpatia e de confiança

às duas correntes. Onde encontrarmos, porém, estes elementos no atual momento? Dentro do próprio partido chefiado por V.S Entre os próprios vereadores eleitos seu pelo seu partido. 

Lembro-lhes os nomes, para Prefeito e Presidente da Câmara dos Vereadores eleitos pela legenda do Partido Progressista, srs João Barbosa e Joaquim Carlos dos Santos, que, além dos predicados de ordem social e particular, que lhes emolduram a individualidade, são também elementos destacados do diretório político do seu partido.

Concorrem eles, sem dúvida, com forte contingente eleitoral para a eleição dos candidatos do P.P filhos de Patrocinio e descendentes de duas tradicionais famílias, com assinalados serviços á nossa terra, homem de um passado sem jaça e de um caráter padrão de honestidade e de virtudes, ninguém é  mais digno do que cada um deles para as altas investiduras de Prefeito e  Presidente da Câmara de Patrocinio.

Escolhemos dois nomes dentro dos próprios quadros dos partidos adversários, pela razão relevante de que são eles capazes de permite a pacificação de todos os espíritos, Partido Municipal Patrocinense dá um público  e inequívoco testemunho de que não alimenta interesses pessoais e só tem em vista os supremos anseios desta terra, a sua felicidade e a sua grandeza. Estes elementos reúnem a confiança e a simpatia de todos os habitantes do município e negar-lhes os chefes partidários apoio nesta hora seria ir de encontro às aspirações coletivas e querer prolongar o mal-estar provocado pelas lutas partidárias. Empenhado, como se encontra, o Egrégio Governador de Minas pela pacificação de todo o Estado, o P.M.P, que sempre deu e dará a sua solidariedade à obra benemérica do seu governo, procura corresponder ao desejo dê S. Excia. No propósito de harmonização das correntes partidárias, para maior coesão e força de Minas Gerais no seio da nacionalidade. Dirigindo-me aos meus sentimentos de cidadão e chefe de Partido, que deve fazer as razões de patriotismo sobrepairem sobre quaisquer outras considerações, fica-me a tranqüilidade de haver cumprido, com renúncia um alto dever cívico, que a minha consciência de cidadão me impõem, pois ninguém poderá prever os riscos e os dissabores que, talvez, estejam reservados, no futuro, para Patrocínio, com a continuação deste ambiente de ódios que as rivalidades geraram e que nos compete, sob pena de trairmos os mais elementares  sentimentos de humanidade, fazer desaparecer enquanto é tempo.

Desta sugestão darei ciência hoje ao Sr. Governador Valadares e ao povo deste município, para que, si não for ela aceita, não recaia sobre o Partido  Municipal Patrocinese  a responsabilidade das graves ocorrências que a exaltação dos espíritos está fazendo prever e aconselhando a evitar.

Recusada a fórmula que sugiro, o meu Partido continuará na luta, não pela vaidade de exercer o predomínio político e administrativo do município, mas para reintegrá-lo na paz em que se acostumou a viver, durante longos anos, sob a chefia de Honorato Borges, cujos exemplos deviam estar nos inspirando para a felicidade desta terra que ele tanto amou.

A espera da resposta de V. S., dentro do prazo útil para solução do assunto, fica o compatrício.

Elmiro Alves do Nascimento, Patrocínio, 18 de agosto de 1936.”