12 de Abril de 2017 às 08:22

Explosão das cifras no futebol torna esporte possível alvo de terroristas

Ex-jogador do Napoli aponta mudança em relação à sua época; especialista fala em desigualdade

As três explosões próximas ao ônibus da delegação do Borussia Dortmund, além de ferirem levemente o jogador Marc Bartra e adiarem o jogo contra o Monaco, que seria realizado nesta mesma terça-feira (11), levantaram desde o início a suspeita de que se tratou de um ato terrorista. Na atual Europa em estado de alerta, qualquer situação deste tipo tem sido assim. Só que desta vez a discussão liga o terrorismo ao futebol, esporte mais popular do planeta, inclusive entre terroristas.

Nos últimos tempos, as altas cifras que envolvem o futebol, aliadas à popularidade do esporte, hoje considerado um verdadeiro negócio, podem ser um fator a mais para colocá-lo na mira dos terroristas, conforme avalia o professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, José Clemente de Souza Neto.

— O futebol é uma expressão da sociedade contemporânea, tanto no aspecto nacional quanto no global, e os jogadores são símbolos, principalmente, da cultura ocidental. Então todos os tipos de violência que ocorrem no cotidiano, também poderão ser materializados no futebol.

Questões de exclusão social acabam sendo propícias para a irracionalidade terrorista. E o futebol, por mais que atraia a atenção de muitos terroristas, se encaixa neste padrão de exclusão a partir do momento, na opinião do especialista, em que envolve cifras milionárias a cada jogo, a cada negociação de marketing, na remuneração dos jogadores - verdadeiras celebridades.

— Hoje, jogadores de grandes clubes custam muito e essa questão econômica atinge várias nações. O futebol também simboliza desiguladade e, como os maiores atletas são do Ocidente, entra nessa questão, pois a maioria dos terroristas, como os vinculados ao Estado Islâmico, tem na sua base a luta contra o Ocidente. Não importa que muitos gostem de futebol, a lógica deles é a irracionalidade, se acharem que precisam atacar, vão querer destruir.

Souza Neto questiona ainda a ideia de que o futebol é democrático. Na opinião dele, os terroristas não estariam atacando a democracia do esporte, mas sim o seu lado mercadológico. O especialista acredita que situações como a da seleção alemã, que possui jogadores de várias etnias, contrariando uma tradição mantida até os anos 90, não reflete necessariamente uma maior abertura da sociedade do país.

— No fundo, o futebol nunca foi democrático. As seleções refletem mais aquilo que o mercado determina. No Brasil, por exemplo, os negros não eram aceitos no futebol, entraram quando o mercado começou a valorizar os passes e os resultados que eles davam. Isso permanece. O futebol é um negócio e, quando se trata de negócio, não há problema de cor, raça e etnia. Na Europa não é bem a democracia que determina, mas sim a economia, se o jogador traz o resultado mercadológico necessário.

Opinião de ex-jogador

Quem notou uma mudança em relação ao que ocorria na Europa nos anos 90 é o ex-jogador Careca (Antônio de Oliveira Filho), 56 anos, que atuou no Napoli, da Itália, entre 1987 e 1993. Suas lembranças estão muito mais ligadas à rivalidade do esporte do que a ameaças de grupos fora dele, mesmo tendo jogado por anos em uma cidade onde atua a chamada Camorra, grupo mafioso.

— A rivalidade sempre existiu no mundo do futebol em todos os países, até com brigas. Deixei a Europa em 93, para ir jogar no Japão, e nunca vi nada dessas questões relacionadas a terrorismo durante minha permanência no Napoli.

Em relação ao ocorrido com a delegação do Borussia, em Dortmund, ele até prefere pensar que não se trata de um ato terrorista.

— Em qualquer hipótese, mesmo se for agressão de rivais, é lamentável. Mas só de pensarmos que tenha sido um ato terrorista já é um absurdo. Infelizmente o futebol na Europa, por ser tão popular, é um alvo atualmente. Ainda vou de vez em quando para lá, não vivo a rotina, mas acho que as pessoas em geral estão mais agressivas, com menos amor. Mas, de qualquer forma, não se pode recuar diante do terrorismo, a estratégia dos caras é essa e não dá para admitir. O futebol é muito maior do que isso e, se não peitarmos situações deste tipo, teremos de nos isolar.

Fonte: R7


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