17 de Novembro de 2014 às 22:02

Duas Crônicas Pinçadas do Facebook

Hoje de manhã, deparei-me no Facebook com duas crônicas de uma beleza singular. Ambas afetivas, espontâneas, verdadeiras e com a tocante magia da simplicidade.

Se voce acha que no Facebook, só tem ostentação, futrica e  besteirol ( tem também e como!)  mas, garimpando,  não raro, encontraremos algo digno de ser lido e compartilhado.  Hoje de manhã, deparei-me  com duas crônicas de uma beleza singular. Ambas afetivas, espontâneas , verdadeiras e com a tocante magia da simplicidade. Uma de autoria da simpática e competente advogada  Drª Vanusa Melo Costa Santos, descrevendo a sabedoria fascinante  e  simples de seu  pai, Sr Wilson. Um "encantador de bicho e de gente". Sabe-se que uma pessoa com o dom de encantar passarinho, não dá outra,  possui no ser uma doçura rara: "Ele possui o dom natural de fazê-los se apaixonarem, algo muito além de um simples adestramento". Coisa de Manuel de Barros.  A outra crônica é  de autoria do jornalista/escritor de  Pedro Divino Rosa - Pedro Popó, se dirigindo com afeto singular ao seu filho Tiago"Daqui a pouco filho, você comemorará seus 29 anos. Pelo Estatuto da Juventude, você entrará no seu último ano de jovem". Ricos conselhos:  "No mundo dos adultos, se a pessoa quiser, ela pode ser cidadã; ser honesta, decente, ter caráter, ter humildade, ser ética. Tomo  a liberdade de compartilhar, pois ambas, são dignas de ser lidas:

“O ENCANTADOR

.Meu pai sempre foi um encantador de bichos. Ele possui o dom natural de fazê-los se apaixonarem, algo muito além de um simples adestramento. Em épocas menos belicosas, ele foi caçador, tinha tralha e tudo, inclusive, claro, um cachorro “perdigueiro” o qual antes de entregar-lhe a caça, sentava-se em posição de “esfinge”. Diz ele que era lindo de se ver! Os passarinhos eram um caso à parte. Seus canários eram especiais a ponto de virem colecionadores de longe a fim de vê-los cantarem. Havia um pássaro preto que era fascinado pelo meu pai, tanto que quando meu pai assoviava ele se posicionava próximo da grade da gaiola para ele pudesse “coçar-lhe” a cabeça.

Pensei que com a idade papai estivesse arrefecido seu “dom” de encantar bichos. Ledo engano. Ele somente o aperfeiçoou. Papai me disse que neste período atual de secas ele quer saber com precisão quando irá chover (já que a meteorologia erra tanto!) assim, ele está criando uma Barata (com letra maiúscula, pois ela agora faz parte da família). Há um mito que quando as baratas ficam esvoaçantes é chuva na certa. A Barata atende pelo nome de “Cascuda” e quando ele se aproxima ela levanta as antenas com se fosse um cachorro feliz abanando o rabo. Papai me disse que quando está para chover, além de mover as antenas, ela abre as asas (um horror total!) e acerta sempre, é chuva que não acaba mais. Odeio baratas, mas confesso que compreendo o sentimento da “Cascuda”, papai é encantador mesmo, de bichos e de gente."

 

“CRÔNICA PARA MEU FILHO

Olá meu filho. Eu e a sua mãe estávamos aqui conversando sobre você, do que você passou hoje nessa corrida maluca de Ubatuba (SP), e daqui a poucas horas você já completará seus 29 anos. Puxa vida! Como o tempo passa. Você era aquele bebezinho, que nasceu em São Paulo (SP), numa data emblemática para a política brasileira. Depois, crescendo, passando a infância e a adolescência aqui em Uberlândia (MG). Primeiros passos, primeiras palavras, primeiros movimentos. Um caminhar novo na vida que tudo nos oferece. E que também nos consome.


Daqui a pouco filho, você comemorará seus 29 anos. Pelo Estatuto da Juventude, você entrará no seu último ano de jovem. No ano que vem você já não será mais jovem, para os efeitos da Lei, mas eu o vejo como “adulto” já há muitos anos e ao mesmo tempo o olho também como a minha eterna criança, que ia comigo para Estrela do Sul (MG), no banco traseiro da Brasília branca, para brincar no quintal de casa, e se encantar com as galinhas ciscando no meio do terreiro, comer tamarindo, beber o chá da vovó e tomar guaraná no lanchinho do Sr. Alfredo.


Para mim, Tiago, eles podem mudar a lei, pode passar o tempo, que você é e será a criança e o adulto, juntos. Daí, eu estar aqui tentando escrever-lhe algumas palavras. O que lhe dizer num momento deste. É comum qualquer pai falar: “Feliz aniversário, meu filho!”; “Parabéns, meu garoto!”, etc. Mas, eu quero lhe dizer alguma coisa diferente. Então, por que não buscar na própria Lei que diz que a juventude vai dos 15 aos 29 anos, para te falar: “Daqui a um ano, você não será mais um jovem. Então, desde agora, seja bem-vindo ao mundo dos adultos”. 


O mundo dos adultos, meu filho, é diferente: é o mundo dos selvagens, dos brutos, dos maus. Mas, é possível ser diferente dos que são diferentes. Basta querer. No mundo dos adultos, se a pessoa quiser, ela pode ser cidadã; ser honesta, decente, ter caráter, ter humildade, ser ética. Foi esse o legado que recebi, é esse o legado que quero lhe deixar. Não tenho posses, tenho um nome e é desse nome que quero vê-lo se orgulhar. Mesmo que o mundo lhe imponha o contrário, mostre que você surgiu de um nome. As posses você as terá, ao longo de sua vida. 
Você se lembra meu filho, do dia que eu contei a você sobre os três conselhos. Eu sei que você não precisa deles, porque já os têm como princípios, mas só para recordar, mais uma vez, para que você jamais os esqueça, nunca procure vencer barreiras pelo atalho porque nem sempre o atalho é o melhor caminho; nunca tente descobrir as coisas, apenas pela curiosidade de vê-las como elas são porque nem sempre somente a curiosidade, somente ela, é que vai abrir-lhe o caminho; saiba esperar o momento certo para ter o que queres, porque nem sempre a pressa é que vai te pôr no caminho certo. Ah! Filho, mais uma coisa: também tenha paciência, paciência, paciência.


Não tenha medo de errar. É com o erro que encontramos o acerto. Não se preocupe com isso. Eu também já errei. E muito. Mas, também já acertei. E várias vezes. Porém, se eu errei meu filho, eu errei tentando o acerto, para acertando evitar que você, no futuro, também cometa os mesmos erros. Aprendi muito com meus erros. Eles me ensinaram a acertar, me ensinaram ser melhor, mais fraterno e mais humano, a ser mais justo e compreensivo com vocês – minha família - e com os outros. Sei que às vezes você acha que eu continuo errando. Sim. Todos nós, adultos, vamos continuar errando e acertando. Obrigado por se preocupar comigo. Pai e filho têm que ser assim. Um se preocupando com o outro. É assim que nos tornamos mais amigos. 


Pratique a caridade a quem precisa de fato porque a caridade é a mãe de todas as virtudes do homem. Dê carinho e amparo às crianças, mas, muito mais àquelas que estão doentes, porque delas o Mundo precisará saudáveis para que elas sejam os cientistas do futuro e encontrem a cura para todos os males, e dê atenção e amparo aos idosos, porque é da experiência deles que os adultos, inclusive você, que está chegando aos 29 anos, vai precisar para construir o novo Mundo. Engenheiro de obras que você é terá nos construtores de idéias e fazedores de sonhos, o alicerce que nos torna duros, sim, mas sem perder a ternura que nos encanta tanto.
E quando eu não estiver mais aqui e você estiver passeando de mãos dadas com seu filho, na pracinha, como eu fazia com você, e ele, apontar para o céu e te perguntar: “Pai, que estrela é aquela?”, apenas responda: “Filho, aquela é a estrela do seu avô. É onde ele está morando agora”. Diga-lhe isso, porque de lá, daquele longe infinito, darei uma piscadela reluzente, fazendo brilhar ainda mais a estrela que ele passará a espiar todos os dias. E eu, mais do que nunca, sabedor do elo entre você e meu neto, continuarei tranqüilo na minha viagem na eternidade, encontrando outros pais que como eu - na mesma dimensão - também amor deram aos seus filhos. Calmamente, também passearei por outras estrelas, até repousar-me, para sempre, no firmamento. Eu te amo, meu filho. Feliz aniversário. 
•Pedro Divino Rosa, em Uberlândia (MG), 16 de novembro de 2014."