A boa convivência exige cada dia mais, que saibamos lidar com as diferenças. São muitas: gênero, raça, classe social, visão política e tantas outras manifestações do diferente.
Se olharmos para o nosso país, então, temos tantas maneiras diferentes de viver, pensar e acima de tudo de conviver. Nesse atual momento vivemos uma crise geral, tanto no campo político como no econômico, e as diferenças acabam partindo para um ataque generalizado e sem respeito à visão do outro de pensar e agir a favor de seus posicionamentos.
Hoje se exigem que as pessoas saibam conviver em grupo, trabalhar em equipe, aceitar diversos tipos de posicionamentos pessoais e ideológicos, a pluralidade das crenças religiosas, as variações musicais. Além disso, é preciso falar vários idiomas. No entanto, o exercício da convivência com o diferente ainda é precário. O que se vê é o confronto de valores, principalmente no interior da família. Ali ocorrem atritos e choques de valores, hábitos e ideias.
Porém, todo conflito gera uma mobilização afetiva. Ele pode nos ensinar a praticar a democracia na intimidade. Isso significa saber reconsiderar valores antigos, assimilar as riquezas da novidade, discernir entre o velho e o novo, o diferente e o semelhante, o que deve ser assimilado ou extinto. Este exercício pode parecer fácil, mas ele é complicadíssimo. O desejável é que mudanças aconteçam pelo entendimento mútuo, pelo diálogo compreensivo. Ou cada pessoa perceba seus limites naquilo que precisa ser superado, mantido ou respeitado, em prol da convivência sadia, evolutiva e dinâmica. Se nada disso acontece, as consequências são medonhas. O massacre da subjetividade, a revolta, o acirramento do preconceito, a exclusão e a intolerância que gera violência.
Ensinar a lidar com as diferenças é uma missão das instituições formadoras da identidade, tais como a família, a escola, a Igreja, os meios de comunicação. Este ensino começa com a prática das virtudes. Além disso, a transmissão de valores, para ter ressonância positiva, exige a coerência entre o que se diz e o que se faz.
Quando falamos em diferenças, é inevitável que venha à tona uma suposta noção de inferioridade, de menor valor, de alguém ou algo que por não seguir as regras ou padrões consensuais, não é merecedor de atenção, de cuidado, de respeito. Nossa aldeia global é fortemente marcada pela padronização de muitos valores, crenças, e comportamentos considerados “ideais”, e, portanto, de uma determinada verdade que é transmitida a todos como se fosse única , universal e absoluta. O que é extremamente discutível.
Por isso, devemos repensar nosso olhar, nossos gestos e nossas atitudes com o diferente. Assim, as diferenças permitem que cada um amplie sua forma de visão, na garantia de união e respeito aos outros em suas diversas possibilidades de ser e existir.