# Milton Magalhães

"Vem', tranquilo" , “seja lá o que flor”    

21 de Julho de 2020 às 14:06

Acordo ás 5:20 da manhã.

No quintal um passarinho chama meu nome com insistência: “Miiiton, pode irrrr! pode irrrr!

Não sei quem deu essa missão ao meu despertador de pena, mas admito que o bichinho tem uma pontualidade daqueles Rolex Suíço.

O fato é que logo de manhã, já tenho uma escolha para fazer: Ou, eu me torno um Dom Casmurro e digo que esse passarinho é um pentelho  me atazanando antes do sol nascer. Ou, eu me sinto um afortunado pela sorte e louvo a graça de viver mais um dia nesse Planeta.

Escolho a segunda hipótese e além do mais, vou mais além. Quem mais no  universo tem o privilégio de ter no seu quintal  um passarinho que lhe chama pelo nome.

“Boom dia Sr Passarinho! E obrigado por me acordar, mas para o seu governo, não vou a lugar nenhum. Estou de quarentena. Uma espécie de gaiola, imposta pelo sistema”

Naturalmente que ninguém, me ouvir dar essa satisfação para o passarinho, pois falei em meu pensamento. São “miltices”. Inventação de moda para não endoidar na prisão  “Prisão Break” que nossos lares se tornaram.

“Falar em pensamento”. Sabia que é o dom/arte mais elevada? Em pensamento se pode viajar. Sem arredar os pés do presente, pode-se, ir longe no passado e mais longe ainda no futuro.

Sobretudo, tudo. O  pensamento é a usina/laboratório onde se  pode criar coisas incríveis.( Incluindo vacinas inéditas)

Chamar á luz, á existência algo novo, único e original. Pergunte lá ao Santos Dumont e Leonardo da Vince.

Que decreto de poderoso no mundo pode impedir um ser humano  de livre pensar? Nenhum. Ninguém. Força nenhuma pode impedir uma mente criativa de gritar o velho eureka!

Onde quero chegar? Nesse ponto nevrálgico no qual vivemos/padecemos. Estamos atravessando um dos momentos  avassaladores  da história da humanidade. Essa pandemia apocalíptica, está ceifando vidas preciosíssimas. A tenebrosa  morte foi banalizada. Pessoas amadas queridas se tornaram meros números. Vaõ sendo sepultadas por lá sem velórios. Sem despedias dignas da vida que viveu..Triste. 

Mas, tem algum lado positivo  na travessia dessa peste global? Ou... Tem, sim.

Essa flagelo dos quintos, mexeu com todos e com tudo. Mas mexeu com o que o ser humano mais tem de divino: Mexeu com o poder criativo do homem. Por isso escreva aí em letras grandes: DONA PANDEMA, VAI  JÁ JÁ VAI BATER-SE EM RETIRADA. Será erradica, banida láá pra onde jamais deveria ter saído.

Aí, sim segura mais essa: Não é somente uma nova vacina que está vindo lá.  Está vindo um novo tempo. Um novo jeito de se relacionar no qual toda vida importa.  Um novo comportamento. Uma nova mentalidade. 

 Eis uma sociedade em plena metamorfose para melhror.  Com Deus e o homem  o mundo poderá brotar do estado caótico, da estaca zero. Já leu Fernando Pessoa, coronavil, não? Então chupa essa: “ Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”

Bom. Até lá, como diria Mia Couto, vamos  cronicando de benção em benção e de perrengue em perrengue na  liça diária.

Depois que agradeci  ao passarinho - em pensamento – por ter falado o meu nome.  ( já falei que tem um passarinho que as fala meu nome? Desculpe-me já falei). Sorvi a brisa fresca da manhã, fiz uma prece de gratidão ao Dono de minha 'lma. Afinal o fato de estar vivo no seio de uma pandemia é um ato de heroísmo.

Então, vamos pra vida! E viver ás vezes requer-se  um estado mental de  um  Monge Tibetano, no meu caso, rangeliano.

Mal tomo o meu café da manhã, um problema já saltita na minha frente fazendo careta: “Sr. Miiilton, estou aquiiii”

Falando em problema/desafio, peço vêna para uma pequenita digressão. É de bom alvitre saber diferenciar o que significa, um contratempo,  um revés e uma tragédia. A maioria das coisas ruins  de nossa vida, tende a ser um contratempo. Revezes são mais sérios, mas também podem ser contornadas. Agora tragédia, meu amigo, é outro patamar. É  grau hard do jogo. Quando alguém passa por uma, a dimensão do estrago, assusta. Há grande chance de que isto que tanto te aflige não passa de um ...contratempo. 

Foi o que aconteceu comigo quando liguei meu celular. Cadê conexão com a internet. Embora a coisa anda brab$ ( E aqui também), o carnê da operadora rangeliana, está  em dia.

E lá vai eu que entendo mais de fabricação de ovos, do que dessa estrovenga tecnológica, tentar resolver o tilt da coisa. Despuglo um cabo aqui, engato outro, acolá e necas de pitibiriba.  Aí, um tal “solucionador de problemas” me veio com essa: “ O Gatotewai padrão não está  disponível” Agora é que lascou de vez. Que diabos é esse tal de “Gatotewai” Porta de entrada pra onde?

Já ia pensado que tinha um problema, problemão (revés, revezão) Não. Nada disto. Tinha um contratempinho.  E só.  

De novo, diante de mim outra escolha. Ficar macambuzio, sorumbático, casmurrento por não ter internet, ou aceitar o fato com a serena tranquilidade de um lago. De novo escolha a segunda opção. E aproveito para me encostar na parede e perguntar.  O que é  mesmo a internet na minha vida: Acessório. Não é tipo o ar que respiro. É importante. É. É vital. Não.

Busquei no Google da minha memória a informação “primeira infância” A resposta me chegou logo. Passei os  primeiros anos de minha vida na localidade de Barra do Salitre, em casa á luz de lamparina. Depois,  lampião. A invenção de Thomaz Edson,  só conheci mais tarde na casa de minha vó, no Fundão da Matriz.

Sem internet e sem processador de texto,  alguém sobrevive? Eu sobrevivi. E muito bem obrigado. E vou dizer mais.  A vida fora da internet é muito mais inteligente. “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade... O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Eca! de dessa frase? Ela é de Umberto Eco. Quem? Só um ganhador do Prêmio Nobel.

Quando me ensinaram o abecedário e aprendi rabiscar o meu nome. Fiquei feito um sumeriozinho deslumbrado, disparei a grafar meu nome no fogão a lenha de minha vó, tábuas do cural, troncos das árvores.

Já colunista do Jornal de Patrocínio, evolui para a caneta Bic. Como os copidesques, Joaquim Machado, Darci e Wagneriana, desvendava meu javanês, é um mistério.

E como esquecer  meu primeiro PC e a internet discada. O Orkut só depois da meia noite. O pior ainda não era aquele barulhindo, era a dor no bolso quando chegava a conta de telefone.

Atualmente tenho “Onet, Onet, fibra ótima,  minha filha!”. Portanto, seja lá o que for esse treco chamado “ gatewai” eles é que domem essa fera do outro mundo. ( Máás, quem tem um filho chamado André Magalhães como personal technicologico, tem solução em bate pronto)

O que pega, é você pagar e não ter a prestação de serviço. Viu Dona OI! Estou “batendo na gangalha para  a mula entender”, sim. O seu fixo em minha residência,( pago em dia)  não tem sido um  perrengue, um problema, um transtorno, um revés, você tem sido uma tragédia. Pronto, desabafei!

Cabe citar nessa  crônica pelos menos dois perrengues que enfrentei nessa quarentena. Coisas que somente quem ouviu o seu nome no bico de um passarinho de manhã pode fazer. (Coisas que separam os homens do menino)

A hora não marquei, 4 da manhã, talvez. Acordo e já me assusto com a tempestade que assolava lá fora e ... dentro de casa. Já explico. Um novo vizinho colocou uma lona plástica, para proteger o vão de  sua varanda da chuva e do sol. (Gambiarra que fala?)  A  tal parede de lona, com o chocotear do vento foi se esfacelando e  os pedacinhos, caindo  na calha da minha cozinha. Não deu outra.  Veio o toró imprevisível, a cascata jorrou na cozinha de casa.  Momento de pensar rápido, arrendar móveis e constatar que a operação rodo não surtia efeito. Decisão, Tinha que tomar uma. Busquei uma escada no quintal, subi no telhado em meio a tormenta gelada. Ensopei até alma, mas a  Niágara cessou.

A dor no peito começou manhosa, a hora da noite não marquei, só sei que meu alarminho de pena  ainda não tinha soado em meu quintal. A coisa foi ficando sem graça. Andei sorrateiramente pra lá e pra cá dentro  de casa. Analgésico comum e gel de arnica não deram  conta do recado.

Abri a geladeira peguei uma pedra  de gelo de meio quilo, coloquei-a sobro o peito e fui cantando“I let it be”. Compressa sem pressa. Resultado.  Peito dormente, coração gelado e dor zero. Não estou dizendo que fora um princípio de infarto, angina ou espasmo, estou dizendo que sarei.

Opa! Em tempo! Vai que me apareça um badeco, com dor no peito aí, ao invés de  consultar um médico, logo, vai usar gelo, por que um tal Milton, falou. Se eu pular no Córrego Rangel, você pula também? Guarde o gelo para uma caipirinha, comemorando  o fim da pandema.

Com a autoridade de alguém que possui um passarinho que fala o seu nome, o suprassumo do supradito é o seguinte:

Primeiramente: De eternidade a eternidade, Deus é Deus e cuida das pessoas. Até no Alcorão se acha escrito: “ Ele possui as chaves do incognoscível, coisa que ninguém, além d”Ele, possui; Ele sabe o que há na terra e no mar; e não cai uma folha (da árvore) sem que Ele disso tenha ciência; não há um só grão, no seio da terra, ou nada verde, ou seco, que não esteja registrado no livro lúcido”

Mantenha-se  em  silêncio: “ Homens trabalhando” e nada nada“quarentena”  a mente humana a serviço do bem.

Tenha leveza. Enquanto o céu não vem. Voce e eu não sabemos o que vem lá, mas misturando uma frase viralizada na net, com uma sem qualquer vírus de   Leminski, podemos dizer: "vem', tranquilo" , “seja lá o que flor”    

(Resiliência. Essa Paineira no Bairro Morada Nova, fala de  um ano adverso, mas olhe pra ela, lá está pelo menos  um naquinho de flor)