# Milton Magalhães

Se voce sofrer de Ofidiofobia, não leia esta crônica...

17 de Setembro de 2020 às 13:44

 O assunto lá no face foi cobra. Aproveitando um gancho,  que u ma mulher foi flagrada levando uma cobra de estimação para passear. No vídeo, ela aparece com uma jiboia de 1,5 metros no gramado de um canteiro, entre as ruas dos Tupis e Rio de Janeiro. 

Segundo a dona da cobra flagrada no vídeo, uma doméstica de 60 anos, além da espécie que levou para passear no Centro de BH. O lado bom é que ela pelo visto gosta e cuida do seu totozinho diferente. O lado ruim é que tem aumentado o números de pessoas que adquirem cobras de estimação. Quer dizer, há muita chance de você pegar um busão por ai e uma cobrinha desta sair da sacola de uma passageiro e passear no seu colo. O que tenho a dizer?  Desde quando alguém que desmaia diz alguma coisa...

Aproveitando o tema pincei lá do passado uma história, que explica por que não tem chance nenhuma de cruzar com um bichinho deste por ai e achar normal. O medo de cobras ou Ofidiofobia é a segunda fobia mais comum no mundo. Quase 1/3 dos seres humanos adultos tem um medo intenso de serpentes. Vamos á crônica:   

 

"MEUS DIAS DE PETER PAN             

Assisti certa vez ao filme “Anacondas- A Orquídea Maldita”.

Uéh! Não vai me aplaudir, leitor?.Acho que mereço, afinal foi como superar um leve  trauma: medo de cobra.Chiii!, Vou ter trabalho aqui para explicar. Tem nada a ver com o que alguém possa insinuar. Aliás , a mente humana anda tão maldosa, não?. Medo de cobra, cobra mesmo! Por isto é que gosto da pureza das crianças. E continuo brincando, mesmo entre répteis humanos peçonhentos.

Meu nascimento, “ a coisa mais importante que me ocorreu " no dizer de Mário Quintana, deu-se na Localidade de Barra do Salitre na Fazenda do Sr. Natal Cândido e Dona Alaíde. Pense em duas pessoas maravilhosas. Pronto? Garanto-lhe que eles

Superam. Meu avô, Benedito Souza e Vò-Mãe-Badia, criou ali dez filhos. Do casamento de um deles,  Lourival e Adelina, nasceu este que até hoje ainda não vi por que me deram o nome do célebre poeta cego: Milton (deve se por minha dificuldade de ver o mal nas pessoas)

Até meus cinco, seis anos, Barra do Salitre era meu vasto universo.

Cresci fascinado com o espetáculo da natureza. Encantava com as gotas cristalinas de orvalho na invernada do açude. Começava o dia me sentindo um homem feito, ajuntando os bezerrinhos  para meu avô. Os dias eram terrivelmente pequenos, logo ouvia-se o passaredo com aquele canto dolente despedindo-se  da tarde, marcando a hora de encerrar as nossas brincadeiras.

Era uma chateação a noite. O escuridéu me trazia medo. Tanto que desejava sempre ficar pertinho de papai. Cadê minha valentia  á luz do sol. As ‘artes’ diárias desfilavam em minha mente, culpada. Chegava a jurar solenemente que ia ser um menino mais aplicado quando o sol voltasse no dia seguinte.

Aquele pão de queijo que peguei escondido da vovó. O cascudo no primo menor. A pedrada na maritaca doía. O “segura peão” nos bezerrinhos do Vô Benedito. Por que fui deixar  aquela porteira aberta?.Outras noites, tantas histórias; Outras noites,  tantas  histórias...

Falando de minha infância , portanto não posso ter inveja nenhuma de Mowgli, Pequeno Príncipe, Tom Sawyer, Gulliver, Menino Maluquinho.Somente  o “Menino no Espelho”de Fernando Sabino, esse me excedeu nas magias das travessuras. Imagina!. Conversava com a galinha “Fernanda” e livrara-a tantas vezes da morte na panela. Sem falar na “Sociedade Secreta Olho de Gato”. Desvendava cada coisa que as pessoas comuns jamais sonhariam que estaria rolando.  E Peter Pan, o qual acho que ainda sou por que me recusei  a deixar o menino que vive em mim crescer.

Brincar  sem o monitoramento de gente grande era o máximo. Tudo aquilo que diziam que era proibido, fascinava. Foi o que aconteceu com aquelas três crianças na Barra do Salitre, naquele fatídico dia. Maria Aparecida, a prima, Cidinha, filha dos saudosos tio Amiro e tia Marieta;  Marta, minha mana mais velha e euzinho aqui, completava o trio.

Bom, já vou explicando, que nunca brinquei de casinha  ou de boneca no time das luluzinhas, mas se tivesse brincado, alguém teria algo contra? Havia, porém umas brincadeiras, digamos, unisex , que cabia bem um baixinho gabola. Nem sei de quem foi a idéia. Naquela manhã o paiol de milho do Vovô se tornou o nosso playgroud da gurizada.

Depois de  improvisar nosso tobogã, piscina de bolinha e cama elástica, resolvemos fazer nosso pula-pula em cima de um velho couro de boi curtido e  estendido como um manto sobre o monte de milho.

Eis que de repente, um som estranho, chamou a nossa atenção.-“È um ratinho”, alguém disse. Mobilizamos todos para capiturar do tal bichinho. Eu apressei em dizer que na minha parte ele não passaria. O barulho ficava agora mais forte, intenso: Brrrrrrrrr! 

Foi quando a Cidinha,  teve um átimo de bobeira, teve a  infeliz ideia de erguer a ponta do couro e olhar debaixo...

A cena seguinte foi uma das mais terriveis que presenciei na vida.  Quando a priam cida ergueu a cabeça,  uma cascavel de quase dois metros, saiu grudada em sua testa.O susto não poderia ser pior. Ficamos estarrecidos, imobilizados. Minha irmã, saiu do estado de choque, saiu trupicando,  foi buscar ajuda, mais não conseguia articular nada, nada  do que havia ocorrido. Olhos arregalados, gesticulava gaguejava   demais. Finalmente, os adultos foram investigar e deram com a cena horrenda. logo vovô surgiu do campo e acertou as contas com a serpente, tirando-lhe o guizo como troféu.

Silencio sepulcral na Barra de Salitre. Ninguém mais pensou em brincar durante aquele transe. A preocupação suspendeu toda alegria. Caiu um manto de silêncio e expectativa sobre  lugarejo antes, cheio de alarido. A condução pra cidade era díficil. Soro antiofídico, o que era istoA prima delirava, convulsões,  rosto com grande inchaço e a certeza que somente por um milagre, nossa Cida continuaria viva. Até quem não era de falar em Deus, fazia de suas lágrimas uma oração.

A fé finalmente triunfou em nossa Barrado Salitre. Mesmo tardiamente medicada, milagrosamente Maria Aparecida sobreviveu.

Há muito não a vejo. Reside atualmente na cidade de Araxá,  e espero que traga uma cicatriz acima da sobrancelha, caso precisar confirmar  toda  essa história.

Apesar de tantos anos a cena não me saiu da lembrança...