# Milton Magalhães

O que essa Palmeirinha torta na Praça Matriz quer nos ensinar?

3 de Julho de 2020 às 12:06

Talvez voce passou por lá e não percÉ ebeu. Bem no centro da Praça da Matriz, uma jovem Palmeira Imperial, está toda curvada, inclinada, tortinha. (Sei,sei, um "cuidador de árvore", - que a propósito, deveria existir aqui uma Lei Municipal, criando essa função voluntária em Patrocínio - deveria passar por lá e tentar endireitá-la através de escoras, mas... estamos em Patrocínio, não se assuste se, diferente disto, alguma motosserra passar por lá e vrumm-vrumm... decepá-la por ser deficiente. Já sei até a desculpa: " era uma ameaça para as pessoas que passam por lá, principalmente para as crianças")

Palmeiras Imperiais... Imperiais Palmeiras... Primeiramente, como não cantar em prosas e versos estas belezas da natureza, que ornamentam nossas praças e avenidas. E voce sabe de onde elas vieram?

No Brasil, primeira Palmeira desta espécie foi plantada pelo então príncipe regente Dom João VI, em 1809. Todas as palmeiras-imperiais cultivadas no país, descendem desta primeira palmeira, que foi denominada Palma Mater e acabou fulminada por um raio em 1972...

EM PATROCÍNIO, (Veja o poder de um gesto) as imponentes Palmeiras Imperiais, foram trazidas do Rio de Janeiro para nossa cidade por volta do século 18, pelo primeiro Presidente da Câmara Municipal e Prefeito, de Patrocínio, Cel. Capitão, Theodoro Gonçalves. Hoje estão espalhadas pela cidade ornamentando praças e avenidas. E as imperiosas imperiais da Praça da Matriz, claro, são imponentes, majestosas, sublimes, retas, enorme. Tem mania de beleza... Exceto umazinha. Muitos vão chamá-la de a "palmeirinha torta."

Mas meu olhar é bem outro sobre esta Jovem Palmeira. Ela está inclinada, não está?. Esta postura fala de REVERÊNCIA E GRATIDÃO. Sim. reverência e gratidão.
Quem sabe ela tem consciência de que está na praça mais cultural da cidade? Que sabe ela se curva em reverência e gratidão á memoria de:

Dr. Michel Wadhy, Sr. Sebastião Eloi, Sr Pedro Alves do Nascimento, Dr. Renato Cardoso, Prof. Hugo Machado da Silveira, Dr. Gerson de Oliveira, Paulinho Machado, Sr Diolando Rabelo, Dr. Helio Furtado de Oliveira ,Dr. Saul Andrade, Profª Lirinha, Dr, Edgard Andrade Rocha, Dr. Abdias Alves Nunes, Dr. Alaor Ribeiro de Paiva, Dr Ocacyr Siqueira, Dr. José Figueiredo, Assis Filho, Profª Vera Nunes, Roberto Taylor, Lincoln Machado, Maurício Roza, Véio do Didino, Marlenísio Ferreira, Paulo Sérgio Martins, Cândido Delfino... Quem mais? A Palmeirinha, sabe que as pessoas tem memória curta?. Muitas destas pessoas, infelizmente, já estão esquecidas...

Não condene a pequena roystonea oleracea da praça Matriz. ela pode querer nos ensinar, com este gesto. Talvez ela saiba que a ireverência, ingratidão e memória curta, é cultural no Brasil. Tem alguém para dizer que em Patrocínio, não é?

Entrei em um tema que é impossível ,não se lembrar na hora do povo japonês. Sabe-se que o admirável povo nipônico tem uma forma muito especial de se cumprimentar. Nada de aperto de mãos, saudar com os cotovelos, muito menos, beijinhos no rosto. No Japão, a forma mais comum de cumprimento é a reverência oriental, conhecida como ojigi, que significa literalmente “arco”.
Ojigi vai muito além de etiqueta social, está profundamente incorporado na cultura japonesa. O significado de inclinar-se é diferente dependendo dos contextos sociais.
“Um japonês se curva ao encontrar alguém, ao pedir algo, enquanto pede desculpas, demonstra respeito, oferta os parabéns ou ao tentar reverenciar alguém”

Quem me garante aí que essa Palmeirinha, não está é praticando esse ojigi? Nestes tempos pandêmicos é a única forma de cumprimento aceitável. A propósito, até sugiro aqui uma nova palavra "coumprimentar". ( cumprimentar com comprimento)

Conhece alguém que não se curva na sua imponência? Não volta atrás na sua arrogância? "Jamais levo desaforo pra casa" Eu, particularmente, tenho pena de alguém assim.
O Criador, que é o Criador, desde seu Trono de Glória, se curva em gesto de soberana humildade. E veja o que Ele e faz:

"Quem é como o Senhor, o nosso Deus, que reina em seu trono nas alturas, mas se inclina para contemplar o que acontece nos céus e na terra?
Ele levanta do pó o necessitado e ergue do lixo o pobre,
para fazê-los sentar-se com príncipes, com os príncipes do seu povo.
Dá um lar à estéril, e dela faz uma feliz mãe de filhos!
Salmos 113:5-9"

Se leio corretamente o texto sagrado, acima Deus, se curva para ouvir. " Levanta do pó", ergue do lixo", "faz assentar com príncipes" e faz a estéril "alegre mãe de filho".
Se leio corretamente o texto abaixo, Deus se curva para fazer um monte de coisa, mas uma bem pertinente aos nossas dias: "SARAREI A SUA TERRA"
Há um texto bíblico muito conhecido que diz:
“E o SENHOR apareceu de noite a Salomão e disse-lhe:
Ouvi tua oração e escolhi para Mim este lugar para casa de sacrifício.
Se eu cerrar os céus,
E não houver chuva,
Ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra,
Ou se enviar a peste entre o Meu povo;
E SE O MEU POVO, QUE SE CHAMA PELO MEU NOME,
Se humilhar,
E orar,
E buscar a Minha face,
E se converter dos seus maus caminhos,
Então, Eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e SARAREI A SUA TERRA .
Agora, estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar.
(2 Crônicas 7:12-15)"

Quanta espiritualidade, poesia, filosofia de vida e valores pode nos ensinar essa Palmeirinha arqueada na Praça da Matriz...

Não posso terminar esta crônica, que versou sobre reverência e gratidão. Um exemplo comovente.

A torcida inteira do meu Corinthians e do seu Flamengo, conhece o admirado, simpático, carismático e inteligente, PADRE FÁBIO DE MELO. ( E sei la que religião é a sua, mas duvido que voce não o admira) Hoje, o Padre/ Cantor, se apresenta nos melhores programas de televisão. Dispensa comentário. Poucos, no entanto, sabem do que ele enfrentou no passado...Oitavo filho de um pedreiro alcoólatra com uma dona da casa. Acompanhava sempre a mãe numa empacotadeira de arroz para comprar arroz destinado aos porcos para comer. Quando chegou aos doze anos, pediu permissão ao pai para deixar a escola e ir trabalhar com ele e os irmãos na obra para ajudar a família. O pai humilde, simples e necessitado, aceitou o pedido.

MAS ALGUÉM, entrou em cena. ALGUÉM, sentiu a sua falta na escola e FOI BUSCÁ-LO NA CONSTRUÇÃO:
ILA BUENO, PROFESSORA... Recentemente, ela faleceu. Quando soube, Padre Fábio de Melo, humano demais, chorando, como qualquer um de nós, narrou entre lágrimas sua gratidão. Vou deixar ele mesmo falar:


“Ha? muitos anos ela notou a minha ause?ncia. Eu cursava a 6 se?rie. Havia deixado a escola porque seguia o mesmo fado de meus irma?os: trabalhar com o meu pai, na construc?a?o civil.
Eu me recordo como se fosse hoje. Ela entrando na obra, iluminada por um sorriso que me abrac?ou de longe.
“O que ce? ta? fazendo aqui, menino?”
Chamando meu pai, comec?ou uma cantilena elogiosa sobre mim, e eu na?o pude me defender.
“Sr Natinho, sabia que seu filho e? um aluno excelente?
Na?o.
Sabia que ele gosta de escrever?
Na?o, minha senhora!
Pois e?, se ele quiser, quem sabe um dia, ele possa ate? ser escritor. Queria muito que o senhor reconsiderasse e o reencaminhasse a? escola.”
E assim foi. Depois daquele dia eu nunca mais me esqueci de suas palavras sobre mim.
Nos avessos de todas as minhas conquistas litera?rias o seu nome esta? eternamente gravado: Ila Bueno.

Soube que ela partiu. Uma tristeza imensa tomou conta de mim. Mas ha? uma rosa de gratida?o, brotada no lajedo de minha memo?ria. E ja? esta? eternizada.

Na?o podera? morrer aquele que soube plantar em no?s um futuro que na?o imagina?vamos ter direito.
Hoje, e? com muito carinho que manifesto aos seus familiares e amigos a minha gratida?o. Por ter sido quem ela foi, e por ter feito o que fez por mim.

Eu sempre digo pra mim: “bendito seja o dia que Ila sentiu a minha falta.”

Agora chegou a minha vez de sentir a sua. Quando chegar ao ce?u, de? uma carteirada, em meu nome: “eu sou a educadora que o padre Fa?bio de Melo tanto fala”

É A REVERÊNCIA E A GRATIDÃO QUE TENTEI DESCREVER...