Cultura. A Academia Patrocinense de Letras–APL é o templo maior do pensamento e saber patrocinense. Tão abandonado. Tão esquecido (por todos). Tão maltratado. Por isso, é um bom momento para reviver um pouco quem foi o seu idealizador e um dos quinze célebres sócios fundadores. A APL foi fundada justamente no dia em que Patrocínio celebrava 140 anos de emancipação. Ou seja, em 07/04/1982. Sob a liderança do médico Michel Wadhy, mais quatorze símbolos da cultura de Patrocínio participaram desse maior movimento cultural da cidade, em qualquer época. Dr. Michel foi médico, poeta, escritor e desportista. Entre os seus amigos cofundadores da APL, Sebastião Elói, Prof. Hugo Machado da Silveira, Alberto Araújo, Júlio César Resende, Gerson de Oliveira, e, Edgard de Andrade Rocha.
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O CRIADOR; A OBRA – Michel Wadhy escreveu diversas crônicas, fez belas poesias e poemas. Em seu livro mais emblemático “Coisas da Vida” o culto médico apresentou, então, poesias e crônicas. Crônica como a magistral despedida de 1981 e a chegada de 1982. A poesia “Tem Poeta-Patrocínio”, nas páginas centrais do livro, é reproduzida, a seguir:
O peito, por cantar-te, não me cansa...
E não me foge a musa, oh! terra amada.
Cada suspiro meu é uma balada...
Cada pranto, um rosário de esperança!
Um dia serei trôpego, velhinho,
Pisando tuas praças de alegria!
Não me deixes cair pelo caminho,
Que ainda assim, te canto, dia a dia!
Quando o meu pó se misturar ao teu...
Quando eu morrer, oh! terra tão dileta,
Minh’alma Deus fará descer do Céu,
Pra gravar no jazigo curvilíneo:
– Ainda mora nesta terra, o poeta,
Para cantar-te amada Patrocínio!
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QUEM FOI DR. MICHEL – Nasceu em Iraí de Minas, quando era distrito de Monte Carmelo, em 12/2/1915. E faleceu em Patrocínio, a sua terra do coração, em 30/4/1985. Portanto, há exatos 40 anos, sepultado no Cemitério Municipal, onde “misturou o seu pó ao pó da terra patrocinense”. Isso como ele expressou-se na poesia acima. Casado com a carmense Hespéria Botelho Wadhy (anteriormente, aluna da Escola Normal N. S. do Patrocínio), tiveram oito filhos. Dentre os quais o craque Dizinho (Wadhy Rebehy Neto). Dizinho foi o camisa 9 (centro avante) do acadêmico Flamengo (do Véio do Didino) e titular da genuína Seleção de Patrocínio, que inaugurou o Estádio Júlio Aguiar (1962). Dr. Michel também foi dirigente desse Flamengo. E de 1951 a 1958, vereador. Assim, no período exitoso da gestão do médico Amir Amaral, o prefeito exemplar. Dr. Michel, o médico dos pobres como era conhecido, formou-se pela UFMG.
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MICHEL, UM IMORTAL – Das quinze cadeiras iniciais da APL, Michel Wadhy foi o primeiro ocupante da cadeira nº 9. E o primeiro e dinâmico presidente. Portanto, de 07/4/1982 a 30/4/1985, por três anos, a luz (cultural) da APL comparou-se ao brilho do sol nas manhãs do verão. Hoje, a APL parece com as frias manhãs do inverno, com nevoeiro.
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SUPREMA CORTE CULTURAL – Além do médico-poeta Michel Wadhy, a Academia de Patrocínio, foi formada, inicialmente, pelo médico Jesus Santos (também da Academia Mineira de Medicina), juiz Edgard de Andrade Rocha (também cronista do Jornal de Patrocínio), médico José Garcia Brandão, jornalista Sebastião Elói (Gazeta de Patrocínio), escritor Paulo Acácio Martins, professor-escritor Hugo Machado da Silveira, escritor e cineasta Alberto Araújo, escritor e professor Júlio César Resende, advogado e intelectual Gerson de Oliveira, radialista Joaquim Assis Filho, poeta Mauro Chaves, poeta Aldo Botelho, promotor público Dimas Rezende Monteiro e médico José Figueiredo. Em resumo, alguns não residiam em Patrocínio à época, mas tinham fortes ligações com o Município. E dois dentre os quinze imortais, felizmente, sobrevivem a todos: Alberto Araújo (Goiânia) e Júlio César Resende (Patos de Minas).
([email protected]) *** Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 26/07/2025.