# Eustáquio Amaral

CENSO Nº 1: NUMEROSOS ESCRAVOS, CRIANÇAS CASADAS E POUCOS VELHOS    

28 de Janeiro de 2024 às 18:04

 

 

                                       

 

 

 

Primórdio. O da história patrocinense, documentada por arquivo, praticamente, iniciou-se em 1832 e no período subsequente 1833-1835. Trata-se do primeiro censo demográfico realizado em Minas, denominado Mapas da População. O de 1832, foi realizado, de casa em casa. Inclusive com o nome e etnia dos moradores de cada casa (ou casebre). Já o de 1833-1835, apresentou levantamento mais analítico, um pouco. Nessa ocasião, Patrocínio era um dos 15 distritos do município de São Domingos do Araxá (município criado em 1831). Entre os quais, existiam também os distritos de São Pedro de Alcântara (Ibiá), Desemboque, Sacramento e São Francisco das Chagas (Rio Paranaíba). A população do distrito de Patrocínio era de 1.752 pessoas. “Brancos”, “Pardos” e “Pretos”, na expressão do Censo da Província, eram as raças. Havia escravo demais. Mais escravos (“pretos”) do que “pardos”. Mais escravos do que pessoas casadas de cor branca. Incrível!  

 

 FORÇA NEGRA – Em 1833/1835, havia em PTC 570 “pretos” escravos (denominação do Censo) e 40 “pardos” escravos. No total, 610 escravos. Ou seja, 35% da população patrocinense.

 

 HAVIA “PRETO” E “PARDO” LIVRE? – Sim, porém em quantitativo muito pequeno. Entre os “pretos”, tinham somente 31 pessoas classificadas como livres (não eram escravos). Quanto ao sexo, eram 16 machos e 15 fêmeas (denominação do Censo). No que concerne à cor “parda”, tinha quase 100 livres (exatamente 95).

 

MAIORIA “BRANCA” – Do total de 1010 pessoas de raça branca, quase 300 (precisamente 299) eram casados, e, 711 solteiros. E havia mais machos “brancos” do que fêmeas “brancas”. Já era sinal de que “homem” domina os censos no Município.

 

VIVIA-SE POUCO! – Em 1835, tempo do Império Brasileiro, dos 1.752 habitantes de Patrocínio tão somente 24 pessoas possuíam mais de 60 anos de idade. Na verdade, 12 machos “brancos”, 8 fêmeas “brancas”, 3 machos “pretos” e 1 fêmea “preta”. E nenhum “ pardo”.

 

 MUITA CRIANÇA – Em 1834/35, o distrito araxaense de Patrocínio contava com quase 800 crianças/adolescentes. Na faixa de “até 15 anos” havia mais de 500 “brancos”, 58 “pardos”, e, 222 “pretos”.

 

 INACREDITÁVEL: CRIANÇAS CASADAS – Até 15 anos, foi registrado 10 pessoas casadas: três “fêmeas brancas”, 2 “machos pardos”, 5 “fêmeas pardas”.

 

TAMBÉM INACREDITÁVEL: CRIANÇAS ESCRAVAS – Esse Censo documentou mais de 220 crianças na escravidão. Com menos de 15 anos de idade, existiam 25 escravos “pardos” e 197 escravos “pretos”. Página desfavorável na narrativa de vida de Patrocínio.

 

PRIMEIRO CENSO, OBRA SÉRIA! – Quem assinou o documento estatístico foi o Juiz de Paz, Dâmaso José Oliveira. Que a partir de 1842 (nove anos depois), tornou-se um dos primeiros vereadores do novel município de Patrocínio. Segundo o historiador e intelectual Odair de Oliveira, foi o que mais se destacou naquela Câmara Municipal (a primeira). Participou ativamente da emancipação patrocinense. Para se ter uma ideia, no Censo, Dâmaso teve que enumerar todos os habitantes do distrito de Patrocínio. Depois, enviou à Câmara Municipal de Araxá (um Mapa da População) e, 30 dias após, quando do retorno aprovado pela Câmara (de Araxá), outro Mapa foi enviado para o Governo Provincial, em Ouro Preto (capital).

 

PTC ERA TAMANHO MÉDIO – O distrito de Patrocínio não era o maior do município de Araxá. Havia outros distritos com quase 3.000 habitantes. Mas esse Censo, que começou três anos antes (1832), possui a relação nominal de todos os moradores de Patrocínio, fogo por fogo (casa por casa). Desde o fogo nº 1, do padre José Ferreira Estrela (primeiro vigário) até o fogo nº 206, do fantástico Índio Afonso e família. Mas... isso é outro capítulo extraordinário. Para breve.

 

 

([email protected])   ***   Primeira Coluna também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 27/01/2024.