# Eustáquio Amaral

ALÔ, ALÔ, PATRÔ,... AQUELE ABRAÇO... E PARABÉNS

11 de Janeiro de 2021 às 13:18

Lembrança. Sempre é bom tê-la ou promovê-la. Como é o caso de segunda mais importante data cívica de Patrocínio. A primeira, a mais relevante, é 7 de abril. É a data que se comemora a criação, a emancipação, do Município. A segunda é a da criação da cidade: 12 de janeiro. Deveria ser também comemorada. Entretanto nunca o foi. Todo janeiro, esta crônica/coluna é ladainha. Diz quase a mesma coisa todo ano. Porém, é uma singela maneira de homenagear essa querida terra. Por isso, vale a pena lembrar desse marco histórico e de como era um pouco aquela distante Patrocínio de outrora.

PRIMEIROS MUNICÍPIOS SE TORNANDO CIDADE – Os municípios e vilas mais antigos da região Triângulo-Noroeste são em ordem cronológica: Paracatu (1798), Araxá (1833), Uberaba (1836) e Patrocínio (1842). As três vilas emancipadas primeiras do que Patrocínio também se tornaram cidades primeiro. Paracatu em 1840 deixou de ser Vila do Paracatu do Príncipe para ser Paracatu (cidade). Uberaba em 1856 tornou-se cidade a Vila de Santo Antônio de Uberaba. Pouco depois, em 1865, a Vila de São Domingos de Araxá é elevada à cidade. Isso motivou os patrocinenses a pleitearem à elevação de cidade. Mas o que impulsionou mesmo a gente de Patrocínio foi a rapidez de seu distrito de Bagagem se emancipar em 1856 e somente cinco anos depois se tornar cidade de Bagagem (em 1901, passou a chamar-se Estrela do Sul, devido o belo diamante encontrado em 1853, quando Bagagem pertencia ao município de Patrocínio).

A LIDERANÇA DE BERNARDO – Segundo Sebastião Elói, Bernardo Bueno da Silva coordenou as ações para a Vila Nossa Senhora do Patrocínio ser elevada à categoria de cidade. Inclusive ele esteve na capital da Província de Minas Gerais, Ouro Preto para convencimento do governo provincial. A viagem até lá durava semanas e mais semanas.

QUEM É – Bernardo Bueno da Silva ou Bernardo de Moraes Bueno muito provavelmente é a mesma pessoa. Então, como vereador por volta de 1870, possivelmente tenha sido agente executivo na ocasião em que intensificou a campanha para a elevação de vila à cidade (faltam claros registros históricos). Após a criação da cidade de Patrocínio, Bernardo de Moraes Bueno foi vereador por mais três mandatos. Bernardo era tio-avô do jornalista José Elói dos Santos, que editou os primeiros jornais no começo do século XX. José Elói é pai de Sebastião Elói, criador da Gazeta de Patrocínio, e avô de José Elói Neto (Maisumonline).

O DIA ESPERADO – O governador provincial, Venâncio José de Oliveira Lisboa, em 13 de novembro de 1873, promulga a Lei nº 1995, criando a cidade de Patrocínio. Dois meses depois, em 12 de janeiro de 1874, instalou-se a cidade. Naquela época, havia um período para a organização administrativa determinada pela lei. Por isso, existia diferença normal entre a lei e a efetivação da lei.

COMO ERA PATROCÍNIO EM 1873/1874 – O vigário da paróquia era o famoso Padre Modesto Marques Ferreira, avô do único bispo patrocinense Dom Almir Marques (e bisavô do fotografo Lucas Marques e do acadêmico Antônio Caldeira, dentre tantos). A Igreja Matriz tinha duas torres. A prefeitura era no largo (praça) da Matriz, onde se destacava também a casa do primeiro deputado patrocinense (Império), Coronel Rabelo. No local dessa casa surgiu depois a Escola Normal, que era o melhor casarão do Município. Coronel Rabelo, monarquista, foi vereador, único barão de Patrocínio e eleito senador (mas não foi confirmado pelo Imperador). Dr. Antônio Oliveira Pinto Dias era o juiz municipal. O Município abrangia Coromandel, Abadia dos Dourados, Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza, que eram distritos patrocinenses.

... E O ÍNDIO AFONSO – Em 1872, Bernardo Guimarães escreveu a história do Índio Afonso, que ele conheceu em 1861. Nesse tempo, jornais já davam notícias do Índio Afonso e de seu temido bando. Esse patrocinense do mal, para alguns, justiceiro para outros, gostava das margens do Rio Paranaíba. Porém, com certa frequência visitava sua terra. E segundo a história, a família Rabelo acolhia-o (e família) nas suas fazendas. Em 1874, também houve tentativa da Câmara Municipal de Bagagem (Estrela do Sul) para transferir Abadia dos Dourados para a Freguesia do Carmo (Monte Carmelo), que pertencia à Bagagem. Os moradores de Abadia e Coromandel reagiram. Com o apoio da Câmara de Patrocínio, junto ao governo em Ouro Preto, nada foi alterado. Continuaram com Patrocínio, por mais meio século, até a emancipação de Coromandel.

MAS O QUE ERA “VILA” – A expressão é oriunda de Portugal. Era a organização básica municipal de territórios portugueses, na época colonial e imperial. Igreja (paróquia), cadeia e câmara municipal eram componentes indispensáveis para se instalar um município e a vila. Já para ser cidade, havia mais critérios, principalmente econômicos.

NÚMERO DE VILAS E CIDADES – Em 1874, Minas Gerais contava apenas com 74 municípios, distribuídos em 61 cidades e 13 vilas. Patrocínio era cidade recente e município. Patos de Minas, por exemplo, era município e Vila de Santo Antônio dos Patos (até 1892, quando surgiu a cidade de Patos). Em 1884, já havia 106 municípios, sendo 92 cidades e 14 vilas.

TRADIÇÃO É TRADIÇÃO – A velha República (ditadura de Getúlio Vargas) aboliu o termo “vila”, em 1938, substituindo por município, cidade e distrito. Mas, a expressão “vila” continuou a ser dita. Nessa região, até há pouco tempo, era comum ouvir “Vila São João” (São João da Serra Negra), “ Vila Guimarânia” e “Vila de Água Suja” (Romaria) e... outras “vilas”.

PARA NUNCA ESQUECER – Nesse 12 de janeiro, a Cidade de Patrocínio completa 147 anos de existência. Dia 7 de abril, o Município de Patrocínio comemora 179 anos de emancipação. E a Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, dia 9 de março, 182 anos de instalação.

Primeira Coluna também publicada na Gazeta, edição 9/1/2021.

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