# Eustáquio Amaral

Velhos tempos que não voltam mais

28 de Junho de 2016 às 22:32

Reflexões. A vida é uma longa caminhada. Os anos vão passando. Os acontecimentos à beira da estrada vão se distanciando. Ficando para trás. Mesmo que o percamos de vista, continuam existindo em nossa mente. Para serem a luz de nossos passos seguintes. Assim, sempre pensamos como foi a nossa Patrocínio. Como é. Como será.

ANOS DOURADOS – Pelé brilhava no Santos. John Wayne era o rei dos “Far west”. JK findava seu mandato presidencial. Brasília era construída. Em Patrocínio, UDN e PSD disputavam a hegemonia política. Cidade que bebia a melhor água do Brasil, segundo os bardos da época. Até o começo da década de 60, quando a energia elétrica da Cemig chegara ao Município, não havia luzes nas ruas e praças. Drogas não existiam. A juventude se divertia com diversão. Nem as mulheres fumavam. Habitávamos num pedacinho do céu e não sabíamos.

E MAIS... – Mesmo com a iluminação moderna (Patrocínio foi chamada a “Paris” do interior mineiro pelo jornal “O Diário”, de BH), não havia violência, roubos, assaltos e crimes (raramente, acontecia um crime passional). Um delegado da cidade (cidadão indicado pelo prefeito), um sargento, um cabo e cerca de cinco soldados eram o bastante para manter a paz e a ordem entre os quase 25.000 habitantes. Ah! Íamos nos esquecendo. Havia sim pequenos furtos. De galinhas no quintal do vizinho. Prática juvenil daquela era. Que acabava em um grande sermão.

O CAMINHAR – A vida segue o seu destino. Os patrocinenses possuem o mesmo coração de outrora. Mas o crime ganha espaço a cada dia. A modernidade veio. O progresso também. Todavia, trazendo consigo o subproduto chamado marginalidade. Não podemos mais andar à noite pela urbe sem perigo. A poesia do professor Franklin Botelho apenas existe entre os fantasmas, vivos em nossos conscientes, e no papel.

Oh! Que noite tão calma de lua

Quanta paz e amor,

Um violino soluça na rua...

PERSPECTIVA – Se empregos não forem gerados. Se o cristianismo não for abraçado com fé e esperança. Se não reduzir a distância entre ricos e pobres. Se a comunidade não apoiar decisivamente à polícia. Se o mal não for combatido, a começar pelo que possa existir dentro de cada um e de cada casa e família. Nada adiantará. O direito de viver com união, saúde e liberdade será violado. Daqui a dez anos, o cidadão será desrespeitado dentro de sua residência. Isso o Céu não quer. Nem os homens de boa vontade.

POR FIM – Será que esta crônica foi escrita hoje? Está muito atual. Mas não foi. Ela foi publicada, por nós, no JP, em 21 de junho de 2003. Portanto, há treze anos. Todavia, tudo continua como dantes. Até a convicção de que dias melhores virão. Sigamos.

 

PALAVRA FINAL EM QUATRO LANCES

 

1 – 1953 – O Flamengo, comandado pelo Véio do Didino, era a academia de Patrocínio. E também da região. Uma lenda. Em Paracatu, o Santana era outro show de bola. Inclusive mesclado com atletas da URT. Estava invicto por quase um ano (36 jogos). Em um domingo, o Flamengo foi lá e venceu por 1 a 0, gol de Batata.

2 – A REPERCUSSÃO DO JOGO – O Clube de Paracatu não se conformou com a perda da invencibilidade. Apoiado pelo Bispo Diocesano reivindicou a revanche. Enquanto isso, pela vitória, o clube patrocinense entrou no clima de comemoração (cerveja e muita festa) naquele domingo. Mas aceitou o tira–teima no dia seguinte.

3 – O FINAL – O Flamengo, que atuava por música, na metade do primeiro tempo já vencia o Santana por 2 a 0. Gols de Rondes (de cabeça) e Ítalo (forte chute da pequena área). Porém, devido à festa na noite anterior, a equipe rubro–negra estava em precárias condições físicas. E assim, permitiu a virada por 3 a 2. Os dois jogos, verdadeiro clássico, mostravam o grande futebol da época nessa região das Minas Gerais.

4 – 1951 – “Estava de férias em Patos e encontrei–me com colegas de lá, estudantes do Dom Lustosa, que me levaram para treinar na URT. Conversando com os jogadores patenses, disseram–me que a dificuldade para vencer o Ipiranga patrocinense era o zagueiro Paulo Tavares. Para eles, um jogador quase impossível de ser driblado ou passar por ele de qualquer outra maneira. Com a rivalidade Patos x Patrocínio, senti como um elogio excepcional ao Paulo, a meu ver, o melhor jogador rangeliano de todos os tempos.” Testemunho do ex–craque patrocinense Rondes Machado, residente no Rio, sobre o atleta Paulo Tavares, que jogou de 1940 a 1952 em Patrocínio. Inclusive, Rondes e Paulo jogaram juntos por algum tempo.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 25/6/2016.

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